terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Trecho de Song of Myself

Nenhum comentário além da interpretação do inestimável leitor. 


"Do I contradict myself? 
Very well then I contradict myself, 
(I am large, I contain multitudes.)"


Song of Myself - Walt Whitman 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Povo Bunda Tem Mais é Que Se F*****

E, da série Povo Bunda tem mais é que se Foder, afinal, quem vota no Tiririca e no Paulo Maluf merece ver certas heresias, uma representação gráfica singela do aumento abusivo de salário de nossos ilustres deputados federais, que passarão a ganhar R$ 26,7 mil (esse absurdo mesmo: vinte e seis mil e setecentos reais). 
Queria fazer um gráfico, mas a proporção impediria o caro leitor de identificar nosso salário mínimo nele.
Para facilitar, abaixo uma lista dos deputados de Santa Catarina que votaram a favor dessa vergonha (desculpem o bairrismo, mas acho mais fácil catequizar um Estado de cada vez):

Santa Catarina (SC)
Angela Amin  PP   
Celso Maldaner  PMDB
João Matos  PMDB
Mauro Mariani  PMDB
Paulo Bauer  PSDB   
Valdir Colatto  PMDB
Vignatti  PT   
Zonta  PP     
E meus parabéns ao senhor Décio Lima, do PT, que votou CONTRA. Lembrarei disso na próxima eleição.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

When I am 64

Adoro essa música dos Beatles. Se formos "atualizar" o sentido da letra, acredito que devamos acrescentar dez ou vinte anos aos 64. Felizmente a melhoria da qualidade de vida faz nossos idosos parecerem menos idosos hoje em dia. Clique aqui para ouvir. 


When I am 64
The Beatles


When I get older, losing my hair
Many years from now
Will you still be sending me
a Valentine Birthday greetings, bottle of wine
If I'd been out till quarter to three
Would you lock the door
Will you still need me
Will you still feed me
When I'm sixty four


You'll be older too
And if you say the word
I could stay with you


I could be handy, mending a fuse
When your lights have gone
You can knit a sweater
by the fireside
Sunday morning go for a ride


Doing the garden,
digging the weeds
Who could ask for more
Will you still need me
Will you still feed me
When I'm sixty four


Every summer we can rent a cottage
In the isle of Wight, if it's not too dear
We shall scrimp and save
Grandchildren on your knee
Vera Chuck and Dave


Send me a postcard drop me a line
Stating point of view
Indicate precisely
what you mean to say
Yours sincerely wasting away


Give me an answer, fill in a form
Mine for evermore
Will you still need me
Will you still feed me
When I'm sixty four 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Flertando com a tesoura

Lá longe, na mais inexorável infância, você não tem escolha quanto ao que fazer com ele: o cabelo é ralo ou nem existe. Depois, com os primeiros tufos, vêm as odiadas presilhas e aqueles lacinhos com elástico que prendem a cabeça inteira e certamente foram criados por um padre invejoso na época da Inquisição. Na primeira vez, sem experiência, você arranca do cabelo sem dó nem piedade, abrindo um berro de arrependimento ao sentir a dor da empreitada. Quem poderia imaginar que pior do que colocar aquela engenhoca seria livrar-se dela? Depois vai ficando esperta: espera a mãe sair de cena e vai tateando devagarinho, tirando aos poucos para ninguém notar - nem as terminações nervosas da sua cabeça. Ufa!
Passado um tempo, já com cinco ou seis anos, você simplesmente não tem tempo para ele. Pentear? Só quando a mãe consegue pegar de jeito ou depois de uma bronca daquelas. Elástico, lacinho? Nas festas de aniversário e Natal, e olhe lá. Os presentes têm que valer o preço dos minutos subtraídos à brincadeira.
Aos doze, treze anos, lavá-lo passa a ser uma atividade séria, e você até gosta do contato com o pente e a escova. É por essa época também que o secador começa a fazer parte da rotina, mas ainda não com aquela determinação toda da adolescência. 
Ah, a adolescência! De repente você descobre aquela imensidão de cores, cortes, arcos, elásticos, presilhas, cremes, sprays, escovas de chocolate e o que mais estiver em voga no momento - e quase surta tentando encontrar a combinação que defina sua verdadeira personalidade. Como se cabelo pudesse definir alguma coisa. 
Com vinte e cinco você já acredita ser uma mulher madura e reduz um pouco o ritmo. Pintura e corte a cada três meses, no máximo uma escova progressiva ou um permanente (para as meninas de tempos mais remotos). 
Aos trinta você até gostaria de parar de pintar, “dar um tempo” para ele se recuperar do ritmo devastador infligido por aquela camaleoa que tomou conta do seu corpo aos dezesseis. Mas debaixo da tinta há mais cabelos brancos do que você poderia arrancar se não quiser ficar semi-careca, e o jeito é abraçar a química até que a morte as separe. 
Aos cinquenta... bem, aos cinquenta ainda não sei, mas vislumbro uma adorável tesoura lá longe, linda e afiada, pronta para cortá-los bem curtinhos, meus cabelos que anseiam voltar ao berço e dependerem apenas de água, xampu e uma penteada depois de acordar. 

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Hachuras

Uma linha após a outra. Retas, rotas, sem um sentido aparente além do emaranhado imprevisível. É preciso ter paciência para coordenar a mão e controlar a pena. Toda a calma desse mundo e uma intruncável concentração no presente. Quem já tentou usar hachuras em uma pintura ou desenho sabe o quanto de perseverança é preciso para se ter um resultado final no mínimo satisfatório. Claro que estou falando de trabalho estritamente manual - aliás, enriquecedor, caso ainda não tenha experimentado. 
Nesta vida que passa tão rápido (e lá vou eu me repetir novamente, mas é que não consigo esgotar o assunto), penso que deveríamos andar (e correr, e dormir, e comer, e fazer tudo, absolutamente) como quem reproduz hachuras num papel. Concentrados em cada linha como se fosse a mais importante. Só assim poderemos olhar para trás e, na distância dos anos, enxergar uma obra-prima. 

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um parágrafo

É 29 de novembro e o ano acabou. Agora é pular de festa em festa até o carnaval, que, dizem, em 2011 será em março. Isso nos dá três meses de limbo para viver sem muita seriedade até que as contas tragam de volta o mundo real. Viver num país como o Brasil, de verão escaldante e praias maravilhosas, ajuda a criar esse tipo de ilusão. 

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Tlinta e tlês

É ridículo. Mas se eu não me der a licença de falar elado como o Cebolinha aos 33, vou fazer isso quando? Além do mais, a tentação do número é muito grande: tlinta e tlês! Passei minha infância sonhando em fazer essa idade só para falar igual ao Cebolinha quando perguntassem. Então, na falta de assunto para um post melhor, denuncio aqui meu aniversário tão desejado aos oito anos, tão evitado aos vinte e oito. Mas a carinha ainda é de trinta e dois.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Antes de Babel

Decifrar a forma
Desconstruir o fêmur
Pintar de branco o branco
Riscar de preto o fato
É que versos feitos de tato
Nascem de poetas raros
Que aprenderam a rimar com as mãos

domingo, 7 de novembro de 2010

Dois Mundos

Há poesia aqui
E música, e dança,
e sol, cores, formas
Um mundo que você não vê
Enquanto cansa os olhos em tantos computadores
Melhor mantê-los fechados
Em nome de uma felicidade morna e duradoura
Há poesia aqui, você não sabe
Mas é preciso correr o risco de viver completamente

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Rabiscos - Eleições 2010

29/10/10 - Último dia de propaganda eleitoral "gratuita":


31/10/10 - Eleição para Presidente - Segundo Turno:


02/11/10 - Dia de Finados...



quinta-feira, 28 de outubro de 2010

À Moda Antiga

Se nos últimos dez anos você não tiver ido a nenhuma festa de casamento, talvez não entenda este post. Sei que esta é uma possibilidade pouco provável, porque festa de casamento é como gripe: todo ano aparece uma que a gente não consegue evitar. A diferença é que, ao invés de se gastar com médicos e remédios, as roupas e presentes é que esvaziam nossos bolsos. Mas gosto de pensar nas exceções, então, achei por bem deixar um aviso logo no início deste primeiro parágrafo.  
Seguindo adiante, com a banalização do divórcio, creio mesmo que a epidemia dos casórios venha aumentando. Fulano casa com Sicrana e vivem três anos juntos: o primeiro amando-se loucamente, o segundo irritando-se mutuamente e o terceiro exercitando a indiferença recíproca. Então contratam um advogado, gastam o valor de mais um carro na separação (o primeiro foi para a festa de casamento) e, finalmente livres, começam a namorar a próxima vítima e guardar dinheiro para uma nova festa de casamento.
E a festa, ou melhor, A Festa, tem de tudo: convites luxuosos, vestido de noiva que custou uma barbaridade indizível, lembrancinhas que são verdadeiras obras de arte, decorações de cair o queixo e até aluguel de limusine para levar a noiva à igreja. Os noivos, coitados, passam a noite (ou o dia) posando para sessões de fotos intermináveis e mal têm tempo de provar o bolo que ficará realmente lindo no vídeo, provavelmente o único recurso que permitirá aos pombinhos saber como foi essa cerimônia inesquecível. Tudo muito perfeito - tudo de uma frieza de dar dó. 
Esta semana caiu em minhas mãos o livro “Pequenas Histórias de São Bento”, um relato de 40 figuras históricas deste lugar pitoresco. São Bento do Sul, para quem não sabe, é uma cidade de colonização alemã que surgiu lá pelos idos de 1873 no topo da Serra Dona Francisca, em Santa Catarina. Escrito por meu pai - Donald Malschitzky (pausa para um “merchan”) -  entre outras coisas o livro mostra um breve panorama da vida que se levava há 50, 60 anos. E agora você deve estar se perguntando “o que uma coisa tem a ver com a outra?”. 
Lendo o relato de donos de salão “daquele tempo” (Alvino Beckert, do Salão Beckert, e Hilda Pauli, do Salão Pauli) descubro aos poucos algumas particularidades dos casamentos de antigamente. A primeira é que cada convidado pagava a sua conta: os noivos tinham que guardar dinheiro para começar a vida (porque ninguém mais entende essa verdade lógica?). A segunda, impensável nos dias de hoje, é que o baile era aberto para qualquer um: noivos e convidados não pagavam entrada, e o valor arrecadado com os ingressos era dividido entre os donos do salão e os noivos. Acredite se quiser.
Casamentos sem plumas e paetês, que duravam a vida inteira. Tão mais acolhedores que as complicadas cerimônias de hoje. Usando as palavras de dona Hilda “acho que um casamento assim, simples, é muito mais divertido do que esses casamentos chiques de hoje”. E ela complementa: “Sempre ouço falar: ‘Ah! Fomos no casamento tal, foi tão chique, tão bom’. Parece que todos só se preocupam com as roupas, a apresentação; ninguém se preocupa com os noivos, com a vida que vão seguir”. 

É isso. Saudades dos tempos não vividos. 

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Surdo Funcional

Você deve conhecer o termo “analfabeto funcional” -  o sujeito que, mesmo sabendo ler e escrever, não consegue interpretar textos ou executar operações matemáticas. Infelizmente, uma parte considerável da população brasileira. Pois bem, deixando constatações políticas e humanitárias de lado, analfabeto funcional é fichinha perto do surdo funcional. 
Não falo daquelas pessoas que nasceram com alguma deficiência auditiva, mas dos que, parodiando analfabetos funcionais, têm todas as suas funções positivas e operantes e ainda assim insistem em não escutar nada do que os outros falam. 
A cena é típica: você tem a infeliz ideia de perguntar qualquer coisa para o surdo funcional e ele responde, sem dar brecha para comentários. Você até aproveita a primeira ou segunda pausa que ele faz para respirar e retruca, mas o sujeito simplesmente ignora e continua sua eterna ladainha, como se a vida dele fosse a única coisa interessante no mundo. 
Não é possível estabelecer um diálogo com essas pessoas: para elas, só o monólogo existe, embora muitas nem saibam o conceito de monólogo. Narcisismo, egoísmo, chatice de carteirinha? Difícil definir a causa da “deficiência”, mas certamente afeta algum lugar no cérebro que controla a percepção de mundo dos ditocujos. Para eles, tudo se resume a sua limitada experiência de vida - o resto é vácuo.
Se você convive com alguém assim, não jogue a toalha tão cedo - esta que vos escreve vasculhou o Google e encontrou uma solução para ao menos minimizar a síndrome: use o telefone. O conselho veio do escritor Mário Prata, que abordou o assunto em uma de suas crônicas. “Descobri que as pessoas que não ouvem, só não ouvem ao vivo. Mas se você telefonar, elas te escutam, te ouvem, enfim, falam com você. Não sei qual é a mágica do telefone para fazer trazer aquelas pessoas à nossa realidade e ao nosso mundo. Aí passei a só falar com este tipo de gente por telefone. Se a ligação for interurbana, ele ouve mais ainda.” (Mário Prata - Revista BCP - fevereiro de 2003)
Então, da próxima vez que encontrar um surdo funcional pela frente, segure a vontade de gritar, diga que tem um compromisso urgente (quando você virar as costas ele deve prestar atenção) e peça para ligar no dia seguinte. Ele ficará agoniado, mas ao menos vocês irão conversar. 
Importante: não confundir surdos funcionais com falantes por natureza. Os últimos falam por prazer, mas sabem ouvir quem os rodeia, participar de conversas e responder a questionamentos simples, como “por que você teima em contar sempre a mesma história?”. 

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Política e Amor de Cão

Domingo que vem é dia de eleição, e domingo - ontem - foi dia de debate com os presidenciáveis na Record. Momento de tristeza, o que mais se pode dizer? O único candidato que pareceu agir com um pingo de franqueza (digo pareceu porque, em tratando-se de políticos, nunca podemos estar 100% certos) foi o Plínio de Arruda. Um socialista (socialista!) de respeitáveis 80 anos e idéias ultrapassadíssimas, em quem eu votaria não fosse o “ultrapassadíssimas”. O mundo já viu o filme do socialismo, e ele evoluiu para ditaduras onde o povo, que deveria estar no poder, perdeu toda a sua liberdade. Em minha opinião, melhor que ser igual é ser livre. Gosto de ser dona do meu nariz. Uma pena, senhor Plínio, uma pena. Em quem votar então? Não quero anular meu voto, mas esta será uma semana difícil pesando prós e contras. 
Enquanto isso, e porque pretendo levar a vida com mais leveza, e talvez porque você também pretenda, um poema para meu fiel escudeiro. Tudo bem se você não entender. É preciso mais do que uma vida para chegar a essa compreensão, e muita sorte. Para mim, foi o caso de um pequeno grande presente, que chegou coincidentemente quando eu pensava que tinha muito pouco.  
Um teco de felicidade
Dorme como se a cama
Fosse menor que ele
Esparramado, 
pés e mãos para fora
sonhando com o infinito
Não tem pretensão maior
que um prato de comida
Talvez alguma brincadeira
beijos e abraços
de todos os amores que puder ter
Há pouco ciúme em seu coração inigualável
e certamente nenhum limite
É feliz, embora não saiba
o conceito de felicidade
Vive no presente
sua pedra filosofal
Inalcançável para nós, 
obtusos mortais que teimam em prever o imprevisível
Jamais aprenderia a escrever ou falar
Mas, em um gesto, é puro entendimento
Ser de outro mundo, de uma simplicidade cortante
Minha sina é saber da tua pouca existência
Tua existência é nunca entender minha sina

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Inveja

Inveja é um sentimento feio, eu sei. Faz a gente parecer mesquinho, egocêntrico, até insensível, dependendo do caso. Mesmo assim, tenho uma inveja danada desse povo que consegue compor música. Sério. 
Parece besta traduzir isso em palavras, documentar um sentimento que não melhorará em nada a opinião dos outros sobre a minha pessoa, mas as frases estão aqui há tempos querendo sair. Querendo não, praticamente organizando uma revolução, uma luta armada para obrigar as mãos a traduzirem sílaba por sílaba dessa minha falta de aptidão. Há algo em mim com medo de dizer certas coisas, receando que a pronúncia aos quatro ventos faça de teorias verdades absolutas. Mera superstição sem qualquer base científica, lógico. 
Algumas vezes me consolo com a suposição de que gente assim já deve nascer pronta. Não deve haver escolas que ensinem de verdade alguém a ser bom compositor. Quero dizer, você pode aprender a tocar bem um piano, um violino ou qualquer outro instrumento até mais difícil, mas colocar as notas em uma partitura criando um conjunto de sons únicos (e belos), ah, isso é bem diferente! E criar letra e música então? Tem gente que faz os dois juntos! É coisa de gênio, só pode. 
Tenho inveja dessa gente. E uma baita admiração também. Tudo bem que é contraditório, e daí? Sinto os dois da mesma forma, eles não competem entre si, apenas existem. Embora a última seja de longe melhor, a inveja ainda ganha no quesito compreensão. Todo mundo entende inveja, já admiração todo mundo diz que tem, mas poucos entendem. 
Olha, senhores e senhoras e senhoritas compositoras (ô português complicado), não sei se hoje é seu dia, mas eu queria dar os meus parabéns. E a minha inveja, do fundo do coração.  

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Poema Perdido

Perdi um poema
Ele desapareceu
Estava aqui, o pobre
Descoberto em meio ao emaranhado de palavras
Tontas, tantas
E eu sem leme
Nem rumo
Nem rimas
Perdi o poema
O instante, o segundo
Que só nas letras pude encarcerar
Ou cercar, melhor seria
Até que o primeiro leitor o libertasse
Versos não têm amarras
Nem são colecionáveis como selos raros
Disse alguém de passagem
Nesse caso, vou sentar aqui e esperar com paciência
Meu poema perdido voltar por capricho
Ou curiosidade
De ver-se terminado
E conhecer minha versão do fim

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Máquina do Tempo

Fez o seu backup de hoje? Guardou os bom-dias, os beijos, os abraços, a cena da moto ultrapassando pela direita, a freada brusca, a conversa sobre o final de semana, o tédio da manhã que não passava, o vento frio da noite que chegou de repente, a semana, o mês, cada ano vivido?
Não amigo, nem mesmo terabytes de memória seriam suficientes para apreender o cheiro do jardim na casa da sua avó numa tarde de sol. O tempo é agora e apenas agora. Até estas palavras não serão as mesmas amanhã. A vida não pode ser guardada. Você a sente momento por momento, mas os segundos passam, como tudo que não pode ser resumido a zero e um. 
Matrix foi apenas um filme, a Máquina do Tempo jaz esquecida entre os escritos de H. G. Wells e backups são uma invenção da modernidade que nunca funcionam quando a gente precisa. 
Tenha uma feliz e insubstituível sexta-feira. 

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ensolarada



Dia de SOL
em caixa alta
Um céu azul
de horizonte cinza
paradoxeando a paisagem
Da janela, só os pássaros
e o vento
Na janela, 
pedaços de pensamento
Vejo o mundo aqui de dentro
Entro em estado de graça
Escrever é o que me resta
enquanto a vida se adianta
Tão rápida
e eu, tão lenta
tentando aprisionar o momento
Música impalpável 
Eterno desencontro
Amanhã, 
conto um novo começo

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Como Escolher seu Candidato Assistindo à Propaganda Eleitoral Gratuita

Começou o Carnaval, digo, a Propaganda Eleitoral Gratuita. Gratuita? Segundo o site Contas Abertas (http://contasabertas.uol.com.br), só em 2010 cerca de 851 milhões deixarão de ser recolhidos pela Receita por causa das propagandas partidárias. 
“É como se cada um dos mais de 190 milhões de brasileiros, indiretamente, pagasse cerca de R$ 4,45 para receber informações sobre os candidatos e os partidos políticos nas rádios e TVs. O cálculo é baseado no princípio de que a Receita Federal “compra”o horário das emissoras, permitindo que deduzam do imposto de renda 80% do que receberiam caso vendessem o período para a publicidade comercial.”
Não sei você, mas eu preferiria usar o dinheiro para comprar um cachorro-quente e uma laranjinha. Ou uns comprimidos para dor de cabeça. Mas, como não tenho escolha e já que estou ajudando a pagar a festa mesmo, melhor fazer o investimento render o máximo. 
Pensando nisso e fazendo um esforço hercúleo para prestar atenção na propaganda eleitoral anteontem (ontem a luz acabou aqui bem na hora da propaganda), pensei em um  método para ajudar na escolha dos candidatos nesta eleição. É especialmente útil na seleção de deputados e senadores:
  1. Anote em um papel os nomes dos candidatos para Presidente, Governador, Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual. (Dica: você encontra a lista de todos os candidatos no site do TSE - www.tse.gov.br - na aba Eleições, escolha a opção Eleições 2010, no menu lateral esquerdo, clique em Divulgação de Candidatos).
  2. Pegue uma caneta.
  3. Daqui pra frente é simples: cada candidato que atender a qualquer dos critérios abaixo você risca da lista. Se ao final da propaganda sobrar algum, pronto, ali estará o “seu” candidato. “E se não sobrar nenhum?” Elementar, caro Watson: sempre tenha um plano B escondido na manga. Divida a lista abaixo por ordem de gravidade (ia deixar na ordem do que eu considero mais grave, mas acho melhor cada um fazer sua própria análise dos argumentos) e numere cada critério considerando 1 = característica que um candidato não deve ter nunca (absolutamente inelegível) e 4 = característica até aceitável sob circunstâncias extremas (já que não tem nada melhor, vai tu mesmo). Então o que você precisa fazer é, ao lado de cada nome riscado, escrever o número correspondente ao critério de eliminação. Assim, se ao final não sobrar um ditocujo, você pode votar naquele que cometeu o pecado menos mortal. Capicce? 
E os critérios são:
Prometer cuidar da saúde, segurança e educação. Ué, mas isso não é óbvio? Tão óbvio que todo político promete na hora da campanha - calma que o buraco é mais embaixo. Explico: não existe proposta mais genérica que essa.Todo candidato preocupado apenas com o próprio bolso promete cuidar da saúde, segurança e educação. Não que isso não seja importante: é primordial. O problema é que tem muito (muito, mas muito mesmo) candidato fazendo essa promessa, sem elaborar um projeto sério para trabalhar essas questões em seu mandato. Lembre-se: proposta genérica é igual a proposta nenhuma, e quem promete resolver tudo normalmente não resolve nada. 
Apelar para o gênero, profissão anterior, classe social, idade ou religião. Não vote numa mulher só porque ela é mulher, em médico só porque é médico, em empresário só porque é empresário, em professor só porque é professor, em assalariado só porque é assalariado, em jovem só porque é jovem, em idoso só porque é idoso, em evangélico só porque é evangélico. Absolutamente nada disso tem a ver com competência para assumir cargos políticos. Quem pede voto usando unicamente esse tipo de argumento não merece o salário que vai sair do dinheiro dos seus impostos (é, do SEU BOLSO).
Ser irmão, filho, neto ou esposa de político de carreira. Tudo bem, esse é questionável. Mas pessoalmente acho que famílias no poder só legislam em causa própria. Então, não voto em sobrenomes famosos no meio político. Ponto.
Ex-pseudo-famosos. Mulheres fruta, humoristas de gosto questionável, ídolos da música brega e variações adoram candidatar-se a cargos que eles nem sabem para que servem, só para garantir o ganha-pão e um lugarzinho na mídia. Se o cara não era bom nem na profissão original, por que seria melhor cuidando do nosso país?  
Percebe a vantagem do método? Você praticamente só precisa assistir a dois programas: um com os candidatos a presidente e senador, e outro com os candidatos a governador, deputado federal e estadual (não sei se a divisão está exata, mas é algo próximo). Depois fica livre para dar uma olhadinha na TV a cabo, assistir um bom filme, ler um livro, passear ou fazer qualquer outra coisa muito melhor que ver político na televisão. E são apenas quatro critérios, dá para decorar em menos de cinco minutos. 
Plano C: sim, pensei na possibilidade improvável de sobrar mais candidatos por cargo do que a legislação nos permite eleger após o uso da lista. Neste caso, a solução é acrescentar mais critérios eliminatórios à lista ou anotar os nomes dos candidatos em papeizinhos, jogar pro alto e pegar um. Vamos precisar da sorte de qualquer forma. 

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Debates e Embates

Já diz a sabedoria popular que política, religião e futebol não se discute. Vivo ignorando essa regra com os dois primeiros, e o terceiro só não entra na pauta porque dele não entendo nada mesmo. Debater é deixar que as portas da mente se abram para novas idéias, ter a coragem de arriscar perder velhos hábitos, testar crenças arraigadas. Fé não se decide em um debate, disse um comentário anônimo, e é verdade se você pensar que o conceito do termo abrange crença e confiança, duas palavras que não admitem questionamentos. Política, quem sabe. E futebol eu é que não sei.

Mas vou continuar falando de religião quando me der na telha e, se você for corajoso o suficiente, vai ouvir e pensar sobre o que eu disser. Talvez você simplesmente conclua que estou errada, talvez meus argumentos sejam fracos, talvez você me faça mudar de idéia, ou quem sabe eu mude a idéia sua. Ou então mudaremos todos, fruto não de argumentos meus e seus, mas de pedaços deles que façam brotar em nossas mentes um conceito novo. Quem sabe então, com debate ao invés de embate, encontremos juntos o Paraíso. Ou um homenzinho verde em seu disco voador.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Deus, um delírio?


“A religião convenceu mesmo as pessoas de que existe um homem invisível - que mora no céu - que observa tudo o que você faz, a cada minuto de cada dia. E o homem invisível tem uma lista especial com dez coisas que ele não quer que você faça. E, se você fizer alguma dessas dez coisas, ele tem um lugar especial, cheio de fogo e fumaça, e de tortura e angústia, para onde vai mandá-lo, para que você sofra e queime e sufoque e grite e chore para todo o sempre, até o fim dos tempos... Mas Ele ama você!”
(George Carlin - retirado do livro “Deus, um Delírio”, citação que inicia o capítulo 8.) 
Um dos primeiros livros que ganhei na vida, antes mesmo de aprender a ler (meus pais tinham o bom hábito da leitura e trataram logo de me familiarizar com a experiência), chamava-se “O Velho Testamento para Crianças”. De capa dura, letras grandes e desenhos em traço, passei algum tempo folheando-o antes de ter o conhecimento necessário para desvendá-lo por completo. Naquele tempo* a gente só aprendia a ler de verdade na primeira série. Até lá, o máximo que tínhamos era o a, e, i, o, u e um repeteco eterno de nossos nomes.  
Para a alegria da minha mãe, que se livrou da tarefa de escrever os nomes dos  Menudos  nos corações de papel que eu recortava (todo mundo tem um podre – o meu ao menos vem acompanhado da desculpa de ser pequena demais para ter senso crítico), aprendi a ler com relativa facilidade e pude, lá pelos idos de meus sete anos, iniciar sozinha a leitura do  Velho Testamento (para crianças, notem bem).  
Era um livro assustador. Quase tão perverso quanto a história que a professora contou para minha turma antes da “hora do soninho” no jardim de infância. Tínhamos quatro anos e observávamos aterrorizados a maquete de coração ser substituída por sua versão em preto, enquanto as pobres criancinhas pecadoras eram jogadas no inferno porque haviam mentido. Segundo a professora, nossas mentiras e outros pecados aparentemente sem importância faziam com que o coração fosse ficando negro aos poucos. E, depois de algum tempo, quando ele estivesse completamente negro, iríamos para o inferno. Acolhedor, não? Sem falar no teor racista implícito. Lembro até hoje do pesadelo que tive após essa aula “esclarecedora”. Minha mãe e seu bom senso me tiraram daquela escola depois disso, mas eles não foram suficientes para entender, no início da década de 80, o quão maléficas pareceriam as histórias do Velho Testamento para a imaginação infantil.
Nunca entendi como Deus pôde pedir a Abraão para sacrificar seu próprio filho – mesmo que no final tenha mudado de ideia. E Jó, o que dizer do pobre Jó? Sem falar na incoerência da história de Adão e Eva - que não tem muito a ver com terror, mas com lógica: se só haviam eles de humanos no mundo, com quem seus filhos casaram depois que saíram do paraíso? Mesmo que você seja um fiel seguidor da Bíblia, duvido que nunca tenha feito a pergunta. 

Tudo isso para dizer que finalmente terminei a leitura de “Deus, um delírio”. Já expliquei porque resolvi iniciar essa leitura num post aqui e não vou me repetir, mas, se você tem alguma dúvida, basta ler a citação que reproduzi no primeiro parágrafo para ter um vislumbre dos meus porquês.
Devo confessar que estou há umas três semanas relutando em publicar este post. Falar de Deus é muita responsabilidade, questioná-lo, então, um perigo. Para a alma, se Ele existir e for vingativo como diz o Velho Testamento, e para o corpo, se algum crente radical decidir tomar as dores. Como meu bom senso não é lá essas coisas, decidi seguir em frente. 
Para começar, devo dizer que o livro é bem convincente. Por exemplo, quando faz a intrigante pergunta “quem criou o Criador?”. A teoria do design inteligente diz que criaturas tão complexas como seres humanos, macacos ou zebras não poderiam ser o simples fruto da evolução. Só um Ser Superior poderia projetar todo esse emaranhado de vida tão interdependente quanto diverso. Mas, se só um Ser Superior poderia criar todas essas complexidades, é inevitável pensar que algo ainda mais superior precisou um dia existir e criar o Ser Superior. Afinal, se somos frutos de um design inteligente, como surgiu o Grande Projetista? 
Percebe o quão interminável é o raciocínio? “Eis o mistério da fé.”
Não desejo converter ninguém, apenas colocar as mentes para trabalhar. Continuando, Dawkins aborda muito bem o tema da religião e quão prejudicial ela (ou elas) tem sido para a humanidade. Se não concorda, perca um pouco de tempo para investigar o assunto (mas com imparcialidade). A guerra eterna entre judeus e muçulmanos no Oriente Médio e mesmo o 11 de setembro, para mim, já são exemplos suficientes. 
Há algum tempo abri  mão da minha (religião), embora volta e meia seja levada a missas e cultos, os quais frequento mais por acreditar na energia de tanta gente reunida que nas palavras dos sacerdotes.  Alguém pode argumentar que essa  crença em “energia” também não faz o menor sentido. A resposta é que não consigo ser 100% racional.
Outra pergunta que não quer calar é por que Cristo precisou morrer na cruz para expiar nossos pecados? Quer dizer, se Deus é amor (usando agora a lógica em voga nas religiões modernas), Ele não poderia simplesmente nos perdoar? De onde vem toda essa necessidade de dor e sofrimento? Adoro a filosofia por trás de Jesus Cristo, adoro quando ele reparte o pão, cura os doentes e põe mulheres e crianças em nível de igualdade com os homens, mas nem eu nem o autor do polêmico livro comentado aqui entendemos o motivo da crucificação. Se você tem bons argumentos a favor dela, não hesite em deixar um comentário. 
Ainda não virei uma atéia convicta e talvez nunca o faça. Parte da explicação está na impossibilidade de ser 100% racional. A outra tiro de um trecho do “Deus, um delírio”: “Vivemos perto do centro de um museu de magnitudes cavernosas, enxergando o mundo com órgãos dos sentidos e sistemas nervosos equipados para perceber e entender apenas uma pequena variação mediana de tamanhos, que se movam numa variação mediana de velocidades. (...) Fora dessa gama, até nossa imaginação é deficiente (...)”. Não entenda mal: Dawkins usa essas palavras para justificar a necessidade da ciência em nossas vidas, na medida em que nos fornece continuamente instrumentos para que aumentemos nossa área de visão.
Mas, com toda sua fé na ciência, ele esquece o quão incompreensível alguns fatos podem ser para nós humanos – pelo simples fato de sermos humanos. Talvez nossa lógica seja apenas limitada demais para entender a existência de uma Divindade.
Então, caro leitor, com olhos atentos e coração carente de algo que a evolução pode explicar mas a mente não quer entender, reservo-me o luxo de permanecer em cima do muro, a favor da ciência e do conhecimento, mas também de um Deus que dê à minha e à sua vida um significado maior. Mas sem religiões, por favor. 

*”Naquele tempo”, “no meu tempo”... usar  expressões como estas me faz sentir  o cheiro da naftalina se aproximando. Mas, como o que não tem remédio, remediado está, sigamos em frente.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A arte de fazer bolinhos de chuva



Não há nada mais aconchegante do que comer bolinhos de chuva acompanhados de uma boa xícara de café em dia de inverno. Se estiver chovendo então, melhor ainda. Minha mãe costumava fazer essa receita para o café da tarde quando éramos crianças, com direito a replays esporádicos nas tardes de sábado agora que entramos na amadurescência. Café da Tarde, para quem não sabe ou já esqueceu, é aquela refeição entre o almoço e o jantar, servida entre as 15 e 16 horas, que some subitamente da sua vida depois que você entra para o almejado Mercado de Trabalho. De qualquer forma, desconfio que ela já esteja na lista dos hábitos em extinção até para quem não chegou lá ainda. Uma pena.  
Ontem, final de domingo, frente fria chegando, me vi na cozinha preparando os tais bolinhos. A receita não tem segredo: um ovo, um pouco de açúcar, trigo, leite, mais um pouco de trigo, fermento - tudo batido até o ponto de massa de bolo (crua, claro). Depois é esquentar o óleo (o suficiente para os bolinhos boiarem), pegar uma colher média e outra pequena e ir despejando pequenas porções na panela. Tudo na base da intuição. E eles ficam redondos feito grandes gotas, macios e saborosos, com gosto de lar doce lar. 
Fazer bolinhos de chuva redondos e macios ao invés de monstrinhos de chuva* é como escrever ou interpretar - tem que sair da alma para ser perfeito. O pulo do gato não está na técnica, embora ela seja necessária, mas na quantidade de amor que você coloca na tarefa. Quando há envolvimento genuíno tudo flui com leveza e fica inesquecível, preenchendo aqueles lugares secretos da mente feitos especialmente para guardar as lembranças boas. 
*”monstrinhos de chuva” é o termo que usamos aqui em casa para nomear aqueles bolinhos que ficam desfigurados quando fritos, mas não necessariamente menos saborosos. 

domingo, 25 de julho de 2010

Inevitável

Não posso evitar
tenho os pés cravados no presente
mas a cabeça teima em mirar o futuro
É parte do que sou
dessa essência tão sagitariana
sempre feita de sonhos
embora eu não acredite em coisas assim
diz meu ascendente, o sério Senhor Capricórnio
Dito isso, espero que você compreenda
o tamanho da minha incoerência
vivo presa nessa síndrome esquizofrênica
equilibrando opostos, harmonizando gostos
polemizando miudezas
Então, como se a explicação bastasse,
aqui me detenho: 
é tudo inevitável até que seja reescrito.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Assuntos complexos são para as segundas

Era sexta-feira
E eu iria escrever sobre Deus
Mas então veio a sombra do trabalho
Os raios de poesia em blogs à deriva
E um pouco de mim se perdeu no caminho
Procrastinei
Deus é complexo demais para uma sexta-feira.

terça-feira, 20 de julho de 2010

De volta ao telefone

Ok, 75% dos votantes na enquete sobre telefone fixo afirma ter o aparelho em casa. Por outro lado, isso significa que 25% não têm. Tudo bem, precisaríamos de muito mais gente votando para considerar esse número como representativo do país, mas digamos que já é uma boa pista. Só para constar, não, eu não votei na minha própria enquete.

Por via das dúvidas, dei uma passadinha no site da Anatel e descobri que houve sim um sensível aumento na "densidade telefônica instalada" (fixa), mas muito, muito sensível - e nada comparado à telefonia móvel. Ah, e falando em fixo, não era o tema da enquete, mas vale ressaltar que o número de telefones públicos no Brasil reduziu de 2008 para 2009. Você pode conferir os dados aqui: http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do#

Finalizando, fica o apelo aos webdesigners e seus respectivos empregadores de plantão: não coloquem o item "telefone fixo" como obrigatório em seus cadastros. A turma dos sem-telefone-fixo agradece sinceramente.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A Lei

Não muito longe daqui, numas terras mais ao Sul (ou ao Norte, ninguém sabe ao certo), existe um país bem pequenininho, insignificante mesmo, que vive de inventar leis. Todos os dias seus prudentes habitantes reúnem-se em assembléias muito bem ordenadas e passam horas a fio buscando em sua interminável legislação qualquer falha que permita às pessoas agir de forma contrária aos preceitos sociais vigentes.


A Lei, como é chamada, diz que cada um deve contribuir com uma nova regra a cada dois dias e um terço, sendo que aquele que não der sua contribuição ficará privado de comer sorvete de chocolate por seis meses. Quem desobedece a regra e come sorvete de chocolate – o que acontece com freqüência, visto que sorvete de chocolate é um alimento muito popular naquele país – é automaticamente condenado a comer sopa de enguias por três meses no jantar. Sopa de enguias, como você bem deve imaginar, é a comida mais odiada pelos cidadãos locais, com exceção do velhinho dono da Farmácia Central, que freqüentemente quebra todas as regras só para saborear o estranho prato.

A qualidade mais apreciada nesse país tão exótico é a capacidade de memorização. Desde pequenos, seus habitantes são ensinados a decorar parágrafos imensos dos mais diversos textos. Tal habilidade mostra-se extremamente útil quando os jovens alcançam a maioridade e podem ser, enfim, penalizados por não cumprirem a Lei.

Além da memorização, a segunda disciplina ensinada nas escolas é - como não poderia deixar de ser - a Lei. De tão comprida e complexa, a Lei é ensinada aos habitantes desde a mais tenra idade, deixando pouco ou nenhum espaço para matérias como biologia, física, química, história ou matemática. O que não faz muita diferença para os cidadãos, afinal, tudo o que se pode ou não fazer no decorrer de uma vida é amplamente descrito em todas as infinitas regras da Lei. Há, por exemplo, artigos que determinam o dia e horário em que uma pessoa pode viajar para fora do país, de acordo com a primeira letra de seu nome. Alguns dizem que esta regra é totalmente desnecessária, visto que os cidadãos evitam viagens longas com medo de não conseguirem contribuir com novas regras e serem privados de seu tão adorado sorvete de chocolate.

Entre as profissões mais disputadas nesse país estão a de advogado, juiz e policial. Os dados estatísticos apurados no último censo demonstram que 35% da população é composta de advogados, 10% de juízes e 21,57% de policiais. O restante se divide em donos de pequenos estabelecimentos, professores de memorização e Lei, funcionários públicos, políticos e três cientistas.

Os cientistas formam a parcela mais incompreendida da população. De fato, quase ninguém quer ser cientista, pois é muito difícil pensar em descobrir coisas novas quando há tantas regras para serem seguidas. Diz-se, além disso, que dois dos cientistas são estrangeiros e entraram ilegalmente no país, enquanto o terceiro é filho ilegítimo de um padre do interior. Mas, como até hoje ninguém conseguiu provar patavinas, eles seguem fazendo suas pesquisas sob o olhar atento dos desconfiados cidadãos.

Um fenômeno que vem sendo alvo de intenso estudo dos cientistas atualmente é o crescente número de furtos, assaltos, assassinatos e acidentes automobilísticos no país, além de outras pequenas contravenções, como o lixo espalhado pelas ruas, a pichação de prédios e a eleição de políticos condenados pela justiça. A pesquisa ainda deve avançar por muito tempo, visto os poucos recursos destinados à ciência naquela região, mas os dados levantados até o momento já permitem um pequeno vislumbre das causas de tantas infrações.

Ao que parece, tal mudança é devida à baixa capacidade dos cidadãos de interpretar as leis. Uma tese sustentada por um dos cientistas é de que a supressão de disciplinas que incentivam o pensamento crítico nas escolas está, aos poucos, formando adultos que desconhecem o significado das palavras contidas na Lei. Assim, sem conseguir interpretá-la corretamente, os cidadãos acabam fazendo o que bem entendem – e, como nada entendem, juízes, advogados e policiais também julgam ou prendem aquele que lhes der na telha.

Atualmente, o cientista que elaborou esta tese encontra-se preso enquanto uma assembléia extraordinária reúne-se para decidir sua pena: o Sindicato dos Professores de Memorização e Lei abriu um processo contra ele por calúnia e difamação. Não se sabe ainda o que será feito do homem, visto que os jurados estão tendo alguns problemas para definir o real significado da palavra calúnia e qual a extensão do dano que pode causar. Mas, por via das dúvidas, um grupo de leais cidadãos reuniu-se na Praça Central onde montou uma fogueira pronta para ser acesa, para o caso do cientista escapar. Especula-se que ele tenha estreitas ligações com seitas demoníacas e esteja tentando trazer o caos para os habitantes do país. Há boatos de que ele promova a queima, às escondidas, de volumes inteiros da Lei. Mas são apenas boatos.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Planos odontológicos e o atendimento estilo SUS

Está sem tempo? Pule os três primeiros parágrafos.

Segundo reportagem publicada na edição 251 da revista Super Interessante, em abril de 2008, a dor de dente está entre as piores dores que um ser humano pode sentir. Se você já passou por isso, sabe bem do que estou falando. Se nunca passou, não queira jamais entender.

Nasci privilegiada. Com um sorriso bem alinhado (ah, a modéstia...), escapei do famigerado “aparelho” extraindo dentes de leite antes do tempo. Tinha uns seis anos e odiei quando a dentista deu a sentença – mas nem meu choro, nem os protestos reverteram a decisão. O que, felizmente, representou um problema a menos para resolver depois de grande.

Mas naquela época os cuidados com a primeira dentição não eram muito prioritários, digamos assim. Então, devo ter começado a escovar os dentes com regularidade lá pelos três ou quatro anos, tempo suficiente para as primeiras cáries reconhecerem o território. Aos seis anos (ou sete?) tive a oportunidade de conhecer de perto esta que é uma das piores dores que alguém poderia sentir. As cáries haviam enfim feito seu primeiro ataque. De lá pra cá, a situação só piorou, apesar das três escovações diárias, fio dental, enxaguante bucal e toda parafernália disponível para supostamente manter os dentes a salvo de seu maior vilão.

Está sem tempo? Comece a ler deste parágrafo:

Toda essa introdução foi necessária para que o provável leitor compreenda o motivo de minha felicidade ao ter à disposição um aparentemente bom e relativamente barato plano odontológico. Afinal, tratamentos dentários são caros e, no meu caso, tendem a ser recorrentes.

Tudo correu bem no início, com exceção talvez da extração dos dentes de siso, quando descobri que a maioria dos profissionais cadastrados no plano não realizava esse tipo de procedimento. Mas, procurando bem, encontrei uma. E depois outra, já que a primeira deixou de atender pelo plano odontológico um tempo depois.

Eu disse no início. O que venho percebendo ultimamente é que cada vez mais os dentistas recomendados por meus colegas de empresa estão se descadastrando do plano. E está ficando bem mais difícil conseguir marcar consultas emergenciais, por exemplo. Não interessa muito se você está sem comer, dormir ou trabalhar por causa de uma dor de dente – simplesmente não há lugar na agenda de certos dentistas para atendê-lo quando é necessário.

Outra constatação: especialistas também são raros. Em minha cidade, a maior de Santa Catarina, há apenas dois endodontistas cadastrados. Ou seja, se você precisar daquele adorável tratamento de canal, vai precisar de sorte também (tenho que abrir um parênteses para falar do empenho da profissional que me atendeu no sábado à noite para iniciar o tratamento – como resolvi não citar nomes neste post, vou manter o decidido, mas saibam que há exceções em nosso interiorano mundo).

Ah, e tem a senha, claro. Agora, para ser atendido, primeiro você faz uma avaliação no dentista, depois espera uns dias pela liberação da dita “senha”, e só então inicia o tratamento. Pergunto: se é tão difícil perceber que um paciente precisa ser atendido (pausa para um minuto de sarcasmo), não seria simples manter um sistema online para consultas em tempo real pelo dentista? Ao marcar a consulta, ele pediria o número da carteirinha e já conferiria se o paciente está em dia com suas obrigações financeiras e pode ser atendido, ora pois. Desconfio que as maravilhas da internet não tenham chegado pelas bandas de lá ainda. Sinceramente, a sensação que dá é que pagamos para ter o atendimento do SUS.

Não muito contente, mas sempre pensando que posso ser uma exceção à regra, fui consultar o Reclame Aqui – excelente site que permite a consumidores publicarem reclamações sobre empresas e dá às empresas a chance de se justificarem ou corrigirem os problemas apontados, também publicamente. Aliás, recomendo este site a todos os profissionais de recursos humanos que trabalham com gestão de benefícios, para consultar antes de contratar, lógico.

A constatação foi péssima. A empresa com mais reclamações simplesmente não se dá ao trabalho de responder aos consumidores, além dos principais planos odontológicos do Brasil terem no mínimo uma reclamação publicada. Você pode conferir a informação clicando aqui.

Mas, como nem só de decepção vivem os consumidores (e as empresas), para finalizar deixo aqui o endereço de outro site, para você cliente fiel postar sua eterna satisfação: http://www.elogieaki.com.br/

Aos amantes de planos odontológicos, por favor deixem sua defesa nos comentários deste post. Adoraria ver uma nova versão dos fatos.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Sete Vezes Sete

Sete pecados
Sete virtudes
E o equilíbrio

...

Sete notas musicais
Mil vezes sete sons diferentes
Em algum lugar a harmonia

...

Sete cores do arco-íris
Um céu que já foi azul
No armário, o casaco vermelho

...

Sete pragas do Egito
Mas a estante, velha e gasta
Só guarda o Novo Testamento

...

Sete chacras no corpo
Como num computador angelical
Que não sei operar

...

Sete dias da semana
Hoje é quarta-feira
O meio absoluto

...

Sete anos aqui
Que poderia ser qualquer lugar
E leio num texto de autor indefinido
Que sete é o número da passagem
Do conhecido ao desconhecido

Só um minuto,
Vou logo ali
Reservar meu vôo para Pasárgada

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um candidato com coragem

Difícil falar de eleição em tempos de Copa. Com o país todo sintonizado na África do Sul, ninguém quer saber de política, propostas de governo ou afins. Feliz ou infelizmente, minhas noções sobre futebol restringem-se a umas poucas regras e o nome de alguns times de maior destaque, o que me permite pensar em assuntos mais sérios no intervalo entre os jogos da seleção canarinho.

É pena que tantos brasileiros estejam, ao menos em mente e espírito, do outro lado do oceano. Senão poderiam dar-se conta de que os candidatos não defenderão tudo aquilo que realmente acreditam nessas eleições. Nem nunca defenderam. Eleição por aqui é só um jogo de “me engana que eu gosto” para decidir, de uma forma democraticamente estúpida, quem será o próximo fantoche a nos representar.

Indignações à parte, hoje acordei otimista. Havia, enfim, encontrado um critério de desempate que me permitiria escolher em quem desperdiçar menos meu voto nesta eleição para presidente. A coragem. Iria votar – pensava eu lá pelo meio da manhã – no candidato que tivesse a coragem de apresentar propostas que não fossem meramente eleitoreiras, mas necessárias, mesmo que isso significasse ir contra uma parcela significativa da população. Um exemplo: acabar com a política de cotas nas universidades (que é totalmente inconstitucional) e apresentar um plano sério e bem estruturado de investimentos no ensino fundamental. Não vou perder muitos parágrafos aqui explicando porque criar cotas em universidades públicas é tapar o sol com a peneira, até porque já devo ter explicado mil vezes meu ponto de vista sobre o assunto – enfim, foi um exemplo.

Então – santa ingenuidade – comecei a procurar pelas propostas dos três principais candidatos à presidência e, claro, não encontrei nadinha. Lá se foi meu otimismo pelo ralo. Voltei à estaca zero. Afinal, a desinformada aqui não havia se dado conta de que primeiro os partidos precisam definir todas as alianças, sob pena de defender alguma bandeira não muito amada por seus futuros aliados. É que partido, no Brasil, não tem ideologia, e candidato também não. Se olhar bem de perto, é tudo índio da mesma taba, só mudam os caciques. E eu querendo um candidato com coragem. Vai sonhando, vai.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pausa para uma Prosa Futebolística

Pausa para uma prosa futebolística
E eu que do assunto nada entendo
Só nos gritos de gol me adianto
Mais uma defensora nessa causa tão brasileira
Verde, amarela, azul e branca
Bola nossa de cada dia
Dai-nos hoje a alegria da vitória
Amém.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Sem telefone fixo!

Desde que o celular virou peça imprescindível ao guarda-roupa moderno e a conexão discada à internet, serviço jurássico, abri mão do telefone fixo. Já disse aqui mais de uma vez que não sou grande fã de telefones. E, além do mais, aquelas contas nunca foram muito claras, mesmo nos serviços que cobram por minutos.

De fato, tive lá minhas querelas com companhias telefônicas por faturas com valores questionáveis, e me estressa saber que não posso nem falar pessoalmente com os responsáveis pelo atendimento ao consumidor nessas empresas. Como lá em casa o único que não sai para trabalhar é o Teco, um docinho de yorkshire que ainda vou filmar e mostrar para todo mundo no YouTube, um telefone fixo, para mim, não faz a menor diferença. Realmente acredito que não faça a menor diferença para outros milhares de brasileiros também.

Mas tem gente que não pensa assim. E coloca naqueles cadastros de preenchimento obrigatório, em entidades, lojas, sites ou qualquer outro lugar que exija um registro, aquele item de preenchimento obrigatório chamado "telefone fixo". Olha, "vou te dizer pra ti" (incorporando um típico joinvilense), dá uma vontade de inventar um número qualquer... mas então vem o bom senso, e o que faço é repetir meu número de celular. Ao menos vão me encontrar quando precisarem (se é que dá para considerar isso uma boa coisa). Falando sério, essa informação pode ter sido importante há 20 anos, mas hoje?

Pior é que esses dias perdemos uma compra pela internet provavelmente por causa disso. A razão dada pela empresa para o cancelamento da venda foi "inconsistência de dados", ou seja... Azar o deles, porque fizemos a mesma compra em outra empresa, que leva mais em conta o histórico do cliente do que um número de telefone fixo.

Mas, como o mundo não gira ao redor do meu umbigo, resolvi colocar uma enquete no blog, aí do lado direito da tela, caso você ainda não tenha visto. Quando puder, preencha e ajude a descobrir quanta gente nesse mundo (ou nesse blog) ainda mantém um telefone fixo em casa - para validar, ou não, essa tendência.

terça-feira, 1 de junho de 2010

A Droga da Obediência

Disse uma certa reportagem que, após os 27, nossa memória já não é mais aquela "brastemp". Deve ser verdade, porque, além de não lembrar onde e quando vi a tal reportagem, também não consigo lembrar do nome certo do filme que vi ontem à noite - pela segunda vez. Vamos dizer que é "Código de Honra". Se não for, corrijam-me os cinéfilos de plantão. Trata-se da história de um jovem advogado da marinha norte americana, protagonizado pelo então também jovem Tom Cruise, que tenta provar a inocência de dois fuzileiros num caso de assassinato. Mas este não é o tema do filme.

Toda a história gira em torno de poder e alienação - superiores que têm suas ordens fielmente seguidas por subordinados muito bem adestrados para obedecer sem questionar. Pelo visto, este é o modelo que sempre deu certo nas forças armadas e, por algum tempo, também fora delas.

Preciso dizer que vejo com olhos desconfiados a continuidade desse sistema militar em qualquer país desenvolvido - título que espero poder dar ao Brasil num futuro próspero. Até onde obedecer sem questionar é algo assimilável por uma geração que tem toda a informação do mundo em computadores com acesso à internet em cada esquina (ou dentro da própria casa)? E, analisando sob uma ótica mais pacifista (e otimista), até onde é realmente necessário "adestrar" seres humanos ao invés de ensiná-los a pensar? Quem sabe no futuro, ao invés de guerras, tenhamos debates.

*Sobre o título do post, além de referir-se ao assunto aqui proposto, trata-se do nome de um livro do Pedro Bandeira, meu autor predileto nos tempos de pré-adolescente. Recomendo.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Cenas dos últimos capítulos

Nada de Twitter, blog, MSN, Orkut, Facebook, LinkedIn ou qualquer tipo de rede social. Eu não sabia, mas passaria a última semana sem tempo algum para interagir com minhas comunidades virtuais. Tão pouco teria oportunidade de ler jornal, escutar rádio ou assistir televisão. Os dias passaram como em um universo paralelo, e agora volto ao lar surpresa e levemente desamparada: a vida passou sem me esperar.

Ego, ego, grande e egoísta ego, como será possível as tragédias e maravilhas continuarem acontecendo sem o meu testemunho? A mente pré-geração Y (e quem sabe com um pezinho nela) não entende a lógica que cá existe. Mas deixemos de lado essas queixas – até porque quem vem chegando terá mais tempo para explaná-las – e vamos às cenas dos últimos capítulos.

De tempos em tempos sentimos necessidade de mudar. Para algumas pessoas esses intervalos são menores, para outras levam anos e, para algumas poucas, não acontecem nunca. Arrisco dizer que estas últimas ou fazem parte de um restritíssimo círculo que alcançou a paz e a felicidade supremas ou simplesmente estão resignadas à sua própria mediocridade. Mas só elas poderiam confirmar esta tese. De qualquer forma, certamente não faço parte deste grupo, pois conheci a tal necessidade de mudança em vários capítulos de minha não tão longa vida e, nos últimos tempos, ela parece brilhar em mim como um gigantesco outdoor iluminado. Mas tudo isso soa como repetição de um post escrito lá pelos idos de março, e de muitos outros em datas anteriores. Pelo visto, mudar é a minha constante.

Enfim, a semana passada foi dedicada quase que exclusivamente a esta tarefa, nem um pouco fácil e, sem dúvida alguma, ainda com muitos passos a serem dados. E digo para vocês que valeu a pena cada segundo, todas as vitórias, todas as derrotas (principalmente elas). Agora tenho que lidar com a não menos difícil tarefa de domar este turbilhão de idéias que vão tomando forma na mente, palpáveis, alcançáveis e que dão um novo sentido a este período conturbado da existência a que chamamos de vida.*

Se alguém quiser o nome do milagre, é só deixar um comentário no blog. E, last but not least, falando em cenas dos últimos capítulos, queridos fãs de Lost, o que foi aquele final? Melhor não comentar...

*Não existir não implica necessariamente em não viver. Uma pedra, por exemplo, existe, mas não tem vida. Ao menos até que alguém prove o contrário.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Para o Dia de Todas as Mães

Nesta antevéspera de Dia das Mães, resolvi escrever um poeminha para a mãe minha e todas as outras que, por destino ou escolha, exercem com perícia exemplar esse papel tão importante. Aí vai:


Mãe tinha que nascer com coração duplo
Reforçado
Que é para agüentar cada susto, joelho machucado,
Emoção contida de ver o filho crescer e ganhar o mundo
Que ela, sozinha, mal conseguiu desvendar

Mãe tinha que ser de aço!
Feito os heróis de revista em quadrinhos
Mulher superpoderosa, invencível e incansável
Com armas secretas, esconderijos e habilidades especiais

Mas acontece que mãe também é ternura, abraço apertado
Sorriso de compreensão
Coisas que precisam de suavidade para existir.
Quanta incongruência!
E, no entanto, este papel que só ela há de desempenhar
É o que a torna mais completa, incomparável e insubstituível.

Mãe é.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os livros, Deus e a eternidade

Após uma suave e inspiradora leitura de “Comer, Rezar, Amar”, da Elisabeth Gilbert (sim, eu leio Best Sellers), resolvi começar esta semana uma jornada em sentido contrário, vasculhando “Deus, um delírio” do Richard Dawkins (tá bom, eu sei que leio muitos Best Sellers, e também sei que nem todos são tão Best assim).

Explico, mas antes quero fazer um comentário sobre o primeiro livro. Senhoras e senhoritas balzaquianas, prestes a completar 30 anos ou que já passaram dessa fase há muito tempo: leiam. Preferencialmente antes do filme chegar aos cinemas, porque o cinema, vocês sabem, é tudo de bom, mas costuma fazer amputações monstruosas em obras literárias. E não sei dizer se a Julia Roberts (dizem que ela fará o papel da protagonista) conseguirá interpretar com fidelidade a mensagem do livro – que, já adianto, nada tem a ver com passar quatro meses em um ashram na Índia. Não sabe o que é um ashram? Mais um motivo para ler “Comer, Rezar, Amar”.

Voltando ao ateísmo que começo a estudar agora – atenção religiosos, leiam até o final antes de me sentenciar à danação eterna – digamos que é uma forma de equilibrar as coisas. Tentar entender o outro lado da questão, coisa que não é muito discutida nos cantos de cá. Assisti a um documentário do Richard Dawkins sobre o ateísmo e encontrei algumas falhas, ou seja, ele não me convenceu. E tenho medo sim que o livro seja mais completo e abrangente, e me converta em uma apática defensora do não crer (acho que tenho mais medo da apatia que acompanha o ateísmo do que do ateísmo em si). Porém, não posso continuar julgando aquilo que não conheço. E, se já sobrevivi à leitura do “Evangelho Segundo Jesus Cristo”, ora pois, não devo ser tão influenciável assim. Daqui há 475 páginas comento o resultado.

A propósito, a cozinha ficou muito boa, mas a incomodação só acabou na última sexta-feira.