domingo, 25 de julho de 2010

Inevitável

Não posso evitar
tenho os pés cravados no presente
mas a cabeça teima em mirar o futuro
É parte do que sou
dessa essência tão sagitariana
sempre feita de sonhos
embora eu não acredite em coisas assim
diz meu ascendente, o sério Senhor Capricórnio
Dito isso, espero que você compreenda
o tamanho da minha incoerência
vivo presa nessa síndrome esquizofrênica
equilibrando opostos, harmonizando gostos
polemizando miudezas
Então, como se a explicação bastasse,
aqui me detenho: 
é tudo inevitável até que seja reescrito.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Assuntos complexos são para as segundas

Era sexta-feira
E eu iria escrever sobre Deus
Mas então veio a sombra do trabalho
Os raios de poesia em blogs à deriva
E um pouco de mim se perdeu no caminho
Procrastinei
Deus é complexo demais para uma sexta-feira.

terça-feira, 20 de julho de 2010

De volta ao telefone

Ok, 75% dos votantes na enquete sobre telefone fixo afirma ter o aparelho em casa. Por outro lado, isso significa que 25% não têm. Tudo bem, precisaríamos de muito mais gente votando para considerar esse número como representativo do país, mas digamos que já é uma boa pista. Só para constar, não, eu não votei na minha própria enquete.

Por via das dúvidas, dei uma passadinha no site da Anatel e descobri que houve sim um sensível aumento na "densidade telefônica instalada" (fixa), mas muito, muito sensível - e nada comparado à telefonia móvel. Ah, e falando em fixo, não era o tema da enquete, mas vale ressaltar que o número de telefones públicos no Brasil reduziu de 2008 para 2009. Você pode conferir os dados aqui: http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do#

Finalizando, fica o apelo aos webdesigners e seus respectivos empregadores de plantão: não coloquem o item "telefone fixo" como obrigatório em seus cadastros. A turma dos sem-telefone-fixo agradece sinceramente.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A Lei

Não muito longe daqui, numas terras mais ao Sul (ou ao Norte, ninguém sabe ao certo), existe um país bem pequenininho, insignificante mesmo, que vive de inventar leis. Todos os dias seus prudentes habitantes reúnem-se em assembléias muito bem ordenadas e passam horas a fio buscando em sua interminável legislação qualquer falha que permita às pessoas agir de forma contrária aos preceitos sociais vigentes.


A Lei, como é chamada, diz que cada um deve contribuir com uma nova regra a cada dois dias e um terço, sendo que aquele que não der sua contribuição ficará privado de comer sorvete de chocolate por seis meses. Quem desobedece a regra e come sorvete de chocolate – o que acontece com freqüência, visto que sorvete de chocolate é um alimento muito popular naquele país – é automaticamente condenado a comer sopa de enguias por três meses no jantar. Sopa de enguias, como você bem deve imaginar, é a comida mais odiada pelos cidadãos locais, com exceção do velhinho dono da Farmácia Central, que freqüentemente quebra todas as regras só para saborear o estranho prato.

A qualidade mais apreciada nesse país tão exótico é a capacidade de memorização. Desde pequenos, seus habitantes são ensinados a decorar parágrafos imensos dos mais diversos textos. Tal habilidade mostra-se extremamente útil quando os jovens alcançam a maioridade e podem ser, enfim, penalizados por não cumprirem a Lei.

Além da memorização, a segunda disciplina ensinada nas escolas é - como não poderia deixar de ser - a Lei. De tão comprida e complexa, a Lei é ensinada aos habitantes desde a mais tenra idade, deixando pouco ou nenhum espaço para matérias como biologia, física, química, história ou matemática. O que não faz muita diferença para os cidadãos, afinal, tudo o que se pode ou não fazer no decorrer de uma vida é amplamente descrito em todas as infinitas regras da Lei. Há, por exemplo, artigos que determinam o dia e horário em que uma pessoa pode viajar para fora do país, de acordo com a primeira letra de seu nome. Alguns dizem que esta regra é totalmente desnecessária, visto que os cidadãos evitam viagens longas com medo de não conseguirem contribuir com novas regras e serem privados de seu tão adorado sorvete de chocolate.

Entre as profissões mais disputadas nesse país estão a de advogado, juiz e policial. Os dados estatísticos apurados no último censo demonstram que 35% da população é composta de advogados, 10% de juízes e 21,57% de policiais. O restante se divide em donos de pequenos estabelecimentos, professores de memorização e Lei, funcionários públicos, políticos e três cientistas.

Os cientistas formam a parcela mais incompreendida da população. De fato, quase ninguém quer ser cientista, pois é muito difícil pensar em descobrir coisas novas quando há tantas regras para serem seguidas. Diz-se, além disso, que dois dos cientistas são estrangeiros e entraram ilegalmente no país, enquanto o terceiro é filho ilegítimo de um padre do interior. Mas, como até hoje ninguém conseguiu provar patavinas, eles seguem fazendo suas pesquisas sob o olhar atento dos desconfiados cidadãos.

Um fenômeno que vem sendo alvo de intenso estudo dos cientistas atualmente é o crescente número de furtos, assaltos, assassinatos e acidentes automobilísticos no país, além de outras pequenas contravenções, como o lixo espalhado pelas ruas, a pichação de prédios e a eleição de políticos condenados pela justiça. A pesquisa ainda deve avançar por muito tempo, visto os poucos recursos destinados à ciência naquela região, mas os dados levantados até o momento já permitem um pequeno vislumbre das causas de tantas infrações.

Ao que parece, tal mudança é devida à baixa capacidade dos cidadãos de interpretar as leis. Uma tese sustentada por um dos cientistas é de que a supressão de disciplinas que incentivam o pensamento crítico nas escolas está, aos poucos, formando adultos que desconhecem o significado das palavras contidas na Lei. Assim, sem conseguir interpretá-la corretamente, os cidadãos acabam fazendo o que bem entendem – e, como nada entendem, juízes, advogados e policiais também julgam ou prendem aquele que lhes der na telha.

Atualmente, o cientista que elaborou esta tese encontra-se preso enquanto uma assembléia extraordinária reúne-se para decidir sua pena: o Sindicato dos Professores de Memorização e Lei abriu um processo contra ele por calúnia e difamação. Não se sabe ainda o que será feito do homem, visto que os jurados estão tendo alguns problemas para definir o real significado da palavra calúnia e qual a extensão do dano que pode causar. Mas, por via das dúvidas, um grupo de leais cidadãos reuniu-se na Praça Central onde montou uma fogueira pronta para ser acesa, para o caso do cientista escapar. Especula-se que ele tenha estreitas ligações com seitas demoníacas e esteja tentando trazer o caos para os habitantes do país. Há boatos de que ele promova a queima, às escondidas, de volumes inteiros da Lei. Mas são apenas boatos.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Planos odontológicos e o atendimento estilo SUS

Está sem tempo? Pule os três primeiros parágrafos.

Segundo reportagem publicada na edição 251 da revista Super Interessante, em abril de 2008, a dor de dente está entre as piores dores que um ser humano pode sentir. Se você já passou por isso, sabe bem do que estou falando. Se nunca passou, não queira jamais entender.

Nasci privilegiada. Com um sorriso bem alinhado (ah, a modéstia...), escapei do famigerado “aparelho” extraindo dentes de leite antes do tempo. Tinha uns seis anos e odiei quando a dentista deu a sentença – mas nem meu choro, nem os protestos reverteram a decisão. O que, felizmente, representou um problema a menos para resolver depois de grande.

Mas naquela época os cuidados com a primeira dentição não eram muito prioritários, digamos assim. Então, devo ter começado a escovar os dentes com regularidade lá pelos três ou quatro anos, tempo suficiente para as primeiras cáries reconhecerem o território. Aos seis anos (ou sete?) tive a oportunidade de conhecer de perto esta que é uma das piores dores que alguém poderia sentir. As cáries haviam enfim feito seu primeiro ataque. De lá pra cá, a situação só piorou, apesar das três escovações diárias, fio dental, enxaguante bucal e toda parafernália disponível para supostamente manter os dentes a salvo de seu maior vilão.

Está sem tempo? Comece a ler deste parágrafo:

Toda essa introdução foi necessária para que o provável leitor compreenda o motivo de minha felicidade ao ter à disposição um aparentemente bom e relativamente barato plano odontológico. Afinal, tratamentos dentários são caros e, no meu caso, tendem a ser recorrentes.

Tudo correu bem no início, com exceção talvez da extração dos dentes de siso, quando descobri que a maioria dos profissionais cadastrados no plano não realizava esse tipo de procedimento. Mas, procurando bem, encontrei uma. E depois outra, já que a primeira deixou de atender pelo plano odontológico um tempo depois.

Eu disse no início. O que venho percebendo ultimamente é que cada vez mais os dentistas recomendados por meus colegas de empresa estão se descadastrando do plano. E está ficando bem mais difícil conseguir marcar consultas emergenciais, por exemplo. Não interessa muito se você está sem comer, dormir ou trabalhar por causa de uma dor de dente – simplesmente não há lugar na agenda de certos dentistas para atendê-lo quando é necessário.

Outra constatação: especialistas também são raros. Em minha cidade, a maior de Santa Catarina, há apenas dois endodontistas cadastrados. Ou seja, se você precisar daquele adorável tratamento de canal, vai precisar de sorte também (tenho que abrir um parênteses para falar do empenho da profissional que me atendeu no sábado à noite para iniciar o tratamento – como resolvi não citar nomes neste post, vou manter o decidido, mas saibam que há exceções em nosso interiorano mundo).

Ah, e tem a senha, claro. Agora, para ser atendido, primeiro você faz uma avaliação no dentista, depois espera uns dias pela liberação da dita “senha”, e só então inicia o tratamento. Pergunto: se é tão difícil perceber que um paciente precisa ser atendido (pausa para um minuto de sarcasmo), não seria simples manter um sistema online para consultas em tempo real pelo dentista? Ao marcar a consulta, ele pediria o número da carteirinha e já conferiria se o paciente está em dia com suas obrigações financeiras e pode ser atendido, ora pois. Desconfio que as maravilhas da internet não tenham chegado pelas bandas de lá ainda. Sinceramente, a sensação que dá é que pagamos para ter o atendimento do SUS.

Não muito contente, mas sempre pensando que posso ser uma exceção à regra, fui consultar o Reclame Aqui – excelente site que permite a consumidores publicarem reclamações sobre empresas e dá às empresas a chance de se justificarem ou corrigirem os problemas apontados, também publicamente. Aliás, recomendo este site a todos os profissionais de recursos humanos que trabalham com gestão de benefícios, para consultar antes de contratar, lógico.

A constatação foi péssima. A empresa com mais reclamações simplesmente não se dá ao trabalho de responder aos consumidores, além dos principais planos odontológicos do Brasil terem no mínimo uma reclamação publicada. Você pode conferir a informação clicando aqui.

Mas, como nem só de decepção vivem os consumidores (e as empresas), para finalizar deixo aqui o endereço de outro site, para você cliente fiel postar sua eterna satisfação: http://www.elogieaki.com.br/

Aos amantes de planos odontológicos, por favor deixem sua defesa nos comentários deste post. Adoraria ver uma nova versão dos fatos.