quarta-feira, 28 de abril de 2010

Um momento

Vácuo
É o pedaço de tempo espremido
Entre o fazer nada
E o ser coisa alguma
Pequena e indetectável miudeza
Vivendo neste despropósito de existência

Penso que seja o tempo de colocar o cérebro em off, reprogramar os neurônios até que a vida seja plena novamente. Caos após caos, o mundo voltaria ao seu normal - livre das bactérias do hábito, que estão sempre a infectar nossos sonhos, ofuscar os olhos e impedir que avistemos caminhos felizes, ainda que de trajetórias distintas. Penso, logo insisto (muito) em continuar. Mas este ainda é um tempo de espera.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

“Crônicas de uma Quase Dona de Casa” ou “O Fim dos Pretextos para Não Cozinhar” ou “Não Espere muito de um Serviço”

Há mais ou menos dois meses, em um dos raros episódios em que decidi usar meus adormecidos dotes culinários (leia-se pegar um pacote de pães de queijo congelados e colocar em uma fôrma) tive uma experiência inusitada. Abri o forno, girei o botão do gás e acendi o fósforo, segurando-o próximo ao queimador e, surpresa: ele não estava lá. Isso mesmo, o queimador, ou sei lá que nome tem aquele treco de onde sai o gás nos fornos caseiros, tinha sumido. Teletransporte? Magia? Coisa que apenas a insólita física quântica explica? Não, caro leitor. Ele apodreceu e caiu mesmo. E juro que fiquei surpresa, porque nunca tinha visto isso acontecer e o fogão, apesar de velho, até que mantinha uma aparência razoável por fora (se bem que eu não costumava olhar muito para ele).

O episódio afetou significativamente os hábitos alimentares aqui de casa, eliminando uma parte importante de nosso cardápio noturno, composta por aqueles alimentos congelados que só ficam bons quando assados em fornos a gás ou elétricos. Não me interprete mal. Eu gosto de cozinhar. Sério. Mas sou meio fresca com esse negócio de cozinha – preciso de muito espaço, recipientes apropriados e, principalmente, tempo. Muito tempo. Ah, também não gosto de gente demais ao redor, palpitando. Então, como a cozinha aqui de casa sempre foi uma união de móveis bem baratos, algumas doações e amontoados de caixas que não cabiam em lugar nenhum, simplesmente abdiquei do posto de “personal chef” pelo maior tempo que pude.

Mas então perdemos o forno, e os cupins que mantinham o lavador em pé já começavam a dar sinais de que iriam abandonar a luta (certo dia, uma das gavetas caiu sozinha, e as outras não estavam com cara de que iriam agüentar muito tempo). Fazendo uma análise estratégica da situação, concluímos que a tão sonhada casa nova não sairia do papel tão cedo, mas o que restava da cozinha estava prestes a nos deixar na mão se não tomássemos uma providência urgente.

Pois bem, resolvemos que, enfim, teríamos uma cozinha nova, sob medida, que acabaria com todos os nossos problemas de espaço e alimentação. Parecia fácil, rápido e indolor. Pesquisa daqui, faz um orçamento lá, logo achamos um fornecedor dentro de nossas expectativas arquitetônicas e financeiras. E foi então que a realidade começou a fazer em pedaços nosso conto de fadas doméstico.

Sinceramente, eu achava que era só tirar as medidas, acertar o projeto, pagar e pronto: móveis novinhos apareceriam feito mágica lá em casa. Não tinha a menor noção de todos os entraves que envolvem os móveis sob medida. Primeiro, há a instalação elétrica. Você não acha mesmo que aquelas duas tomadas que tem na cozinha vão chegar para mais um forno, um exaustor e todas as parafernálias futuras que um dia entrarão em sua casa. É preciso pensar em tudo, porque uma cozinha sob medida não pode ser retirada do lugar para refazer uma instalação mais tarde. Ou melhor, até pode, mas você não vai querer fazer isso.

Depois tem o encanamento. Aquela gambiarra para levar água até a lava-louça não pode mais continuar ali. Você tem que chamar um encanador ou aprender sozinho (melhor chamar o encanador) a instalar o tal do sifão, uma outra torneira (porque aquela que você tinha é baixa demais para o novo lavador), o filtro... Ah, e tem a instalação dos móveis, claro. Pensou que era só apertar um botão e eles se colocariam automaticamente no local? Sem falar no preço de tudo isso que você não tinha contabilizado. Como o granito, por exemplo, ou as banquetas da cozinha (minha cozinha era tão abandonada que não tinha mesa ou cadeiras).

Resolvidas mais estas pendengas, o problema estava quase no fim, ou era isso que a gente pensava. Sabe, eu não acredito em serviço eficiente no Brasil. Aliás, ainda não acredito em serviço eficiente em parte alguma do mundo. Mas tenho esse lado meio besta que gosta de dar uma chance para todo mundo – “todos cumprirão o que prometem até que se diga o contrário”. Refletindo sobre isso hoje de manhã, chegamos à conclusão que o melhor é não criar expectativas. Assim, se tudo der certo, a gente fica muito feliz. E, se der errado, bom, “eu avisei... “.

Explico: a tal empresa que contratamos ligou semana passada dizendo que estava tudo pronto, e poderiam instalar os móveis na segunda-feira se estivesse bom para nós. Infelizmente não estava bom para nós, então, reagendamos para hoje de manhã, oito horas. Tudo acertado, passamos o feriado retirando panelas, alimentos e materiais de limpeza da cozinha (porque a lavanderia também entrou no pacote), doamos os móveis, nosso apartamento ficou parecendo um daqueles centros de doação para famílias desabrigadas, e em dois dias, no máximo, teremos nossa vidinha de volta, muito mais confortável.

Então acordo hoje pelas sete e meia, tomo café, ligo o computador (trabalho em casa para poder receber o pessoal dos móveis), olho no relógio, oito horas, nada. Tudo bem, que cheguem oito e meia, vai, meia hora de atraso é aceitável. Mas ninguém apareceu oito e meia, nem nove horas. Nem às nove e meia, hora que a moça que atendeu o telefonema indignado disse que estariam aqui. Os móveis chegam só às dez e quinze, mas sem um detalhe fundamental: o montador. Aquele cara que pega as tábuas de mdf e transforma em armários, gavetas e outros aparatos de nomes menos conhecidos. Pois é.

Mas ele vinha de manhã, tentou se explicar o homem, só que esqueceram de agendar a entrega dos móveis. Imagina, todo mundo esquece isso, claro. Porque eu ficaria indignada? Resumo da ópera, a montagem começou às duas da tarde, e teve que parar às seis – regras do condomínio. E no meio da tarde, como para colocar uma cereja nesse bolo de gosto duvidoso, o outro cara, que fará as peças em granito, liga perguntando se já está tudo pronto e ele pode passar aqui agora à noite para medir os móveis. Detalhe: ele trabalha na mesma empresa que fez os móveis. Incompetência pouca é bobagem.

Ou seja, amanhã teremos mais um longo dia de bagunça na cozinha, que deve se estender até a próxima segunda-feira, quando finalmente tudo estará em seu devido lugar. Ou não. Agora já conto com a possibilidade do montador ter outro serviço agendado para segunda, afinal o nosso era para terminar sexta. Moral da história: todo mundo cumpre o que promete na hora de vender, mas pouquíssimos conseguem manter a promessa na hora de entregar. Com exceção talvez do nosso eletricista, que superou todas as nossas expectativas no que diz respeito a prazos. Segunda moral da história? A gente pode até se incomodar muito, mas no final sempre tem história para contar. Desejem-me sorte amanhã.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Essência

Sou mais poesia do que prosa, embora a ordem contrária trouxesse mais beleza a esta frase por algum critério mágico que desconheço. Ando assim, mulher das cavernas, atribuindo ao divino tudo aquilo que tenho preguiça de pesquisar. Coisas da estação, não me pergunte, esta é outra verdade sobrenatural.

Tem a ver com a forma como as palavras jorram na mente e buscam semelhanças, fazem cócegas querendo sair para criar logo o belo a partir de uma folha vazia. As rimas surgem, cada uma delas com vida independente, e sigo unindo-as em casamentos nem sempre felizes, a fim de expressar aquelas idéias que tanto me angustiam. Algumas vezes não são elas – as idéias angustiantes – que provocam o matrimônio das rimas. Também faço dos momentos breves longas uniões de palavras, em prol da beleza e apenas dela.

"É da minha natureza", como diria o escorpião naquela história que talvez você conheça, ser mais emoção do que razão. Em meu dicionário interno, classifico a poesia como algo emotivo e imensurável, mais semelhante à minha essência do que seria uma prosa com início, meio e fim.

E agora espero que esta explicação sirva para encerrar o texto, que afinal não se trata apenas de prosa, mas de pensamento que gostaria, ainda que com uma rima tão pobre, de ter nascido poesia.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Abrindo as cortinas

Agora sim, gostei. Ficou "bunitinho" esse laioute com cara de manhã-de-sábado-de-sol-num-dia-de-outono. (Desculpem, algumas vezes meu ego é maior que eu - então, se não gostar, limite-se aos textos. E, se não gostar dos textos, caramba, tá fazendo o quê aqui? Azar, porque eu gostei).

P.S.: Eu sei que não tem nada a ver com lixeira. Mas lixeira foi um nome catado às pressas da memória e acabou ficando porque não descobri como mudar. E agora mudar seria estranho, a gente se acostuma depois de tanto tempo. Enfim, dizem que o importante é ter saúde...

terça-feira, 13 de abril de 2010

Conselho

Você vai precisar de coragem. Anote aí, bem fundo, deixe impresso na alma. E não é daquela suposta coragem dos filmes de ação, regida a socos e pontapés, que melhor se pode chamar de brutalidade. Talvez um dia você precise da brutalidade, mas isso é só um talvez bem pequenininho. Do que você vai precisar mesmo é de coragem para dizer não para quem ama, quando queria tanto dizer sim. Coragem para ser julgado, rejeitado e absurdamente mal interpretado.

Também vai precisar perder o medo de dizer sim quando a oportunidade chegar. Ela pode acontecer uma única vez em sua vida. E você terá que pular nesse cavalo arisco, agarrar-se a seus pelos obstinadamente tentando manter-se firme enquanto ele corre ligeiro por pastos desconhecidos, ou perdê-lo para sempre. Mas aqui você sempre poderá culpar o destino, as linhas tortas de Deus que fizeram o cavalo rápido demais. É preciso menos coragem para dizer sim do que para dizer não.

Você vai precisar de coragem para encarar a solidão. E não se iluda: você está sozinho. Isso não significa que não haja pessoas importantes ao redor, aquelas com quem você divide suas preciosas horas. Mas elas não podem pensar ou agir por você. Tão pouco decidir ficar ao seu lado até que tudo para você tenha acabado. Não porque não queiram: simplesmente, por uma lógica difícil de decifrar, não cabe a elas decidir.

Pare de armazenar comida e comece a guardar coragem. Recolha-a nas pequenas dificuldades e nos heróis desconhecidos, cate nas ruas, dos mendigos que já sabem tanto de solidão, peça um pouco dos milionários bem sucedidos e daqueles que viveram um grande amor, não tenha medo de emprestar das famílias felizes – elas serão as últimas a dizer não. Faça um armário bem grande e encha com tudo que conseguir, CORAGEM, muita coragem. Você vai precisar.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Feira do Livro

Tenho que me retratar. Há pouco tempo deixei um comentário no Twitter meio que ironizando a Feira do Livro de Joinville (SC), promovida agora, no mês de abril. Não acreditava nela. Achei que seria mais um daqueles eventos “engana bobo” que as prefeituras por aqui gostam (ou gostavam) de promover.

Explico: faz alguns anos visitei uma dita feira do livro na cidade, no mesmo lugar da atual, e o que encontrei foram exposições de sobras de livros – aqueles que ninguém compra, ou pela baixa qualidade do conteúdo, ou por falta de divulgação, ou por serem segmentados demais e distantes da realidade do povo mais simples, ou por tudo isso junto e mais alguma coisa. Na verdade, vi mais de uma edição nesse estilo e perdi a fé na capacidade de promover a cultura do(s) governo(s) desta cidade.

Como falar é fácil e assumir um fato como verdade absoluta mais ainda, este final de semana decidi ver esta edição da Feira de perto, o que se mostrou uma ótima decisão. O que vi foram diversos estandes, com livros para todos os públicos – dos best sellers aos técnicos, passando por boas coleções de livros infantis (além das promoções e descontos nos estandes - quem não gosta de pagar menos?). Fora isso, havia o bate-papo com escritores, teatro para as crianças, tudo em tendas montadas na praça, próximo ao terminal de ônibus central, facilitando e muito o acesso para quem depende dos ônibus urbanos.

Claro, esse foi o ponto de vista de uma visitante, num sábado tranqüilo e descompromissado. Espero que a organização, que pareceu tão boa para quem vê de fora, tenha surtido o mesmo impacto em quem está lá dentro promovendo seu negócio. Afinal, queremos todos de volta ano que vem, e que seu exemplo traga ainda mais estandes para a Feira, com a variedade e qualidade que a maior cidade de Santa Catarina merece.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ando catastrófica, eu sei. Conseqüências da leitura recente de um certo livro de contos do Stephen King. Mas a remessa de literatura feliz deve chegar nas próximas semanas, o que costuma ter um sensível efeito nos rumos da minha prosa.

Microconto para os filhos da geração Y

Navegando na Internet, o gato faminto engoliu o mouse e morreu afogado.