segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Política e Amor de Cão

Domingo que vem é dia de eleição, e domingo - ontem - foi dia de debate com os presidenciáveis na Record. Momento de tristeza, o que mais se pode dizer? O único candidato que pareceu agir com um pingo de franqueza (digo pareceu porque, em tratando-se de políticos, nunca podemos estar 100% certos) foi o Plínio de Arruda. Um socialista (socialista!) de respeitáveis 80 anos e idéias ultrapassadíssimas, em quem eu votaria não fosse o “ultrapassadíssimas”. O mundo já viu o filme do socialismo, e ele evoluiu para ditaduras onde o povo, que deveria estar no poder, perdeu toda a sua liberdade. Em minha opinião, melhor que ser igual é ser livre. Gosto de ser dona do meu nariz. Uma pena, senhor Plínio, uma pena. Em quem votar então? Não quero anular meu voto, mas esta será uma semana difícil pesando prós e contras. 
Enquanto isso, e porque pretendo levar a vida com mais leveza, e talvez porque você também pretenda, um poema para meu fiel escudeiro. Tudo bem se você não entender. É preciso mais do que uma vida para chegar a essa compreensão, e muita sorte. Para mim, foi o caso de um pequeno grande presente, que chegou coincidentemente quando eu pensava que tinha muito pouco.  
Um teco de felicidade
Dorme como se a cama
Fosse menor que ele
Esparramado, 
pés e mãos para fora
sonhando com o infinito
Não tem pretensão maior
que um prato de comida
Talvez alguma brincadeira
beijos e abraços
de todos os amores que puder ter
Há pouco ciúme em seu coração inigualável
e certamente nenhum limite
É feliz, embora não saiba
o conceito de felicidade
Vive no presente
sua pedra filosofal
Inalcançável para nós, 
obtusos mortais que teimam em prever o imprevisível
Jamais aprenderia a escrever ou falar
Mas, em um gesto, é puro entendimento
Ser de outro mundo, de uma simplicidade cortante
Minha sina é saber da tua pouca existência
Tua existência é nunca entender minha sina

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Inveja

Inveja é um sentimento feio, eu sei. Faz a gente parecer mesquinho, egocêntrico, até insensível, dependendo do caso. Mesmo assim, tenho uma inveja danada desse povo que consegue compor música. Sério. 
Parece besta traduzir isso em palavras, documentar um sentimento que não melhorará em nada a opinião dos outros sobre a minha pessoa, mas as frases estão aqui há tempos querendo sair. Querendo não, praticamente organizando uma revolução, uma luta armada para obrigar as mãos a traduzirem sílaba por sílaba dessa minha falta de aptidão. Há algo em mim com medo de dizer certas coisas, receando que a pronúncia aos quatro ventos faça de teorias verdades absolutas. Mera superstição sem qualquer base científica, lógico. 
Algumas vezes me consolo com a suposição de que gente assim já deve nascer pronta. Não deve haver escolas que ensinem de verdade alguém a ser bom compositor. Quero dizer, você pode aprender a tocar bem um piano, um violino ou qualquer outro instrumento até mais difícil, mas colocar as notas em uma partitura criando um conjunto de sons únicos (e belos), ah, isso é bem diferente! E criar letra e música então? Tem gente que faz os dois juntos! É coisa de gênio, só pode. 
Tenho inveja dessa gente. E uma baita admiração também. Tudo bem que é contraditório, e daí? Sinto os dois da mesma forma, eles não competem entre si, apenas existem. Embora a última seja de longe melhor, a inveja ainda ganha no quesito compreensão. Todo mundo entende inveja, já admiração todo mundo diz que tem, mas poucos entendem. 
Olha, senhores e senhoras e senhoritas compositoras (ô português complicado), não sei se hoje é seu dia, mas eu queria dar os meus parabéns. E a minha inveja, do fundo do coração.  

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Poema Perdido

Perdi um poema
Ele desapareceu
Estava aqui, o pobre
Descoberto em meio ao emaranhado de palavras
Tontas, tantas
E eu sem leme
Nem rumo
Nem rimas
Perdi o poema
O instante, o segundo
Que só nas letras pude encarcerar
Ou cercar, melhor seria
Até que o primeiro leitor o libertasse
Versos não têm amarras
Nem são colecionáveis como selos raros
Disse alguém de passagem
Nesse caso, vou sentar aqui e esperar com paciência
Meu poema perdido voltar por capricho
Ou curiosidade
De ver-se terminado
E conhecer minha versão do fim