quarta-feira, 31 de março de 2010

Jardineiro de Palavras

Cuidava dos textos como quem cultiva uma horta. Plantando sinopses, extraindo vírgulas, trocando as palavras até obter frases exatas. Algumas vezes guardava as que ficavam tortas, como se fossem filhas a quem não se pode negar abrigo. E assim criou parágrafos e mais parágrafos de metáforas, contos fantásticos, haikais certeiros, artigos polêmicos e romances memoráveis. Todos os dias, lendo e relendo o que escrevia, escrevendo e reescrevendo o que pensava, transformou letras dispersas em canteiros de idéias, alimentando o mundo à sua maneira.

Foi encontrado em seu jardim, morto de fome em meio à terra seca. Não tinha o dom para cuidar das plantas. Era um jardineiro de palavras.

Liberdade

O livre arbítrio me pegou
Inerte, nas mãos do destino
Fui resgatada ainda inconsciente
Dos braços da sorte
E agora sou obrigada a fazer escolhas

sexta-feira, 26 de março de 2010

Estagiário com Experiência

Confesso que esses anúncios de vagas me intrigam. Hoje mesmo recebi um para seleção de estagiários. Entre os requisitos, pasmem, era “desejável experiência”. Daí me pergunto: experiência em quê? Produção de trabalhos escolares? Engabelação de professores? Provas de final de bimestre? Sim, porque estagiário, diz nosso pai dos burros, é “aquele que está fazendo estágio”, e estágio, neste contexto, é o “tempo de prática ou tirocínio para o exercício de certa profissão”. Abre parênteses. Tirocínio, eu também não sabia, refere-se aos “primeiros exercícios, aprendizado”. Fecha parênteses. Ou seja, em termos bem claros: estagiário é aquele que não tem experiência na profissão.

Ah, mas também, não é todo mundo que tem tempo para abrir dicionário. E a legislação é tão complexa que a gente nunca lembra dos detalhes. Como, só para dar um exemplo, o capítulo que fala das definições de estágio. Olha só como é grande o primeiro artigo!

Art. 1º Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam freqüentando o ensino regular, em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos.

Ironias à parte, e antes que alguém resolva colocar a culpa no estagiário de RH que divulgou a vaga (isso seria de chorar), sei que o governo não ajuda, que é muito caro manter um trabalhador formal, que gestores têm metas para reduzir o orçamento, que a crise acabou mas pode voltar, etc, etc e etc. Agora, custa tanto assim apostar num estudante sem experiência?
Garanto que as escolas e faculdades estão cheias de gente louca por uma oportunidade, e que, se contratada, em pouco tempo faria as empresas esquecerem da tal “experiência desejável”.

Senhores empresários, gestores, profissionais de RH ou futuros donos de qualquer negócio: apostem em novos talentos e mostrem para os brasileiros que é possível crescer sem dar um “jeitinho”. Ou contratem profissionais. A sociedade agradece.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Mudei, de novo

Nessa onda de mudanças, mudei (de novo) a cara do blog. Ou seja, você não entrou no site errado (ou entrou sim - neste caso, seja bem-vindo, aproveite a leitura, deixe sua opinião e volte sempre!), esta é apenas mais uma manifestação do meu infame talento layoutístico. Obrigada por compreender.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Breve Teoria da Mudança

A gente muda o tempo todo, não muda? Muda de idade, de cidade, de país até. Muda de humor, muda de amor, muda de idéia e muda tudo de novo. Afinal, a mudança está cravada em nosso DNA. Nascemos destinados a mudar sempre, assim, sem notar. Conscientes ou não deste destino, mudamos até aquilo que não estava programado, só para ver uma cara diferente no espelho todos os dias – como se isso não acontecesse independente de nossa vontade.

Tem gente que sofre com a mudança. Não gosta dela, teme aquilo que não pode prever. Esquece o dia em que veio ao mundo, quando teve que conhecer tudo pela primeira vez. Não lembra, talvez, que até andar já foi um ato estranho .

Não dá para negar que a mudança traz no pacote aquele friozinho na barriga e, algumas vezes, nas embalagens VIP, duas ou três noites de insônia. Pudera, diriam os agraciados com o prêmio máximo da oferta, além de nos desenharem mutantes, incluíram em nosso código o terrível gene do afeto. E então, assim como o Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry, nos tornamos responsáveis por aquilo que cativamos.

Sim, mudar também é cortar laços. Algumas vezes para logo remendá-los, noutras para perdê-los completamente de vista. Faz parte da lógica da vida: encontrarmos e desencontrarmos nossos pares até aprendermos que crescer é uma tarefa solitária.

Então, mudar é ruim? Não, mas pode ser tão doloroso quanto gratificante. Só depende de quem muda e de sua capacidade de guardar a sete chaves aquelas qualidades que não deveriam mudar nunca. Afinal, não temos como escapar da mudança, mas ainda temos como esconder dela aquilo que deveria permanecer. Ao menos até que algum ser maior ou a inteligência coletiva (ou qualquer outra coisa que nos supere em sabedoria ou força) mude nossos conceitos sobre o que é bom e o que é mal.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Pessimista não, realista.

Algumas vezes as semanas passam sem que me ocorra uma só idéia que dê vontade de dissecar, e deixo o blog em branco, com memórias velhas e praticamente solitárias, com pouco ou nenhum leitor. Noutras elas vêm em pencas, maduras e loucas para servirem de alimento a qualquer mente que se dê ao trabalho de chegar até aqui. Essa é uma delas.
Então, para não embaralhar tudo, como minha mente adora fazer, escolhi uma só idéia, aquela que mais me incomoda – afinal, este é um blog egocêntrico.
Sempre fui realista. Mas as pessoas à minha volta insistem em chamar isso de pessimismo. Na onda dos livros de auto-ajuda, segredos, neurolinguística e outros blábláblás do gênero, quase pensei que estava virando a gota de óleo perdida na piscina olímpica. Quase. Mas, como realista que sou, sei que o mundo baseia-se em equilíbrio – mesmo que precário – e tudo tem, no mínimo, dois lados (exceto uma linha, diria um espertinho, e eu responderia: não me venha com xurumelas que não estou a fim de discutir geometria!). Então, nesse embalo de procurar pelo outro lado da moeda, eis que me deparo com uns posts muito interessantes abrangendo justamente esse ponto de vista! (Deixa eu contar um segredo: não sou realista. Sou otimista. Vejo o copo com água pela metade, mas sei que, no fundo, tudo vai dar certo. Só não espalha ainda – vamos criar uma reputação de cada vez). Os posts são do @raraujo28, antes que eu me esqueça de mencionar.
Por que sou realista? Porque quem se recusa a ver uma situação em sua totalidade não enxerga possíveis problemas. E, sem enxergar possíveis problemas, não pode se antecipar a eles, evitando-os. Simples assim. Essa máxima é especialmente útil se você trabalha ou pretende trabalhar com organização de eventos. Não há na face da Terra uma área onde ocorram tantos imprevistos quanto esta. Já escapei de algumas ciladas só por conseguir prever com antecedência coisas que não funcionariam. Isso não é ser pessimista, é ser prática. Aí o Sr. Espertinho vai me dizer: problemas não existem se você acreditar firmemente que tudo vai dar certo. Hahahahahahahahahahahahahahahahahahaha.. é... hehehehehuahuahuahua.. bom, hehehehe, tem gente que acredita em Papai Noel...
Vou terminar o post por aqui hoje, porque as outras idéias estão me pinicando e está difícil me concentrar. Mas faça um favor para você mesmo e leia “O Golfinho Benevolente e a Vitória da Auto-Ajuda” (http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2010/03/o-golfinho-benevolente-e-a-vitoria-da-autoajuda.html), “Do pessimismo calvinista ao otimismo paralisante” (http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2010/03/do-pessimismo-calvinista-ao-otimismo-paralisante.html) e “O motor do consumismo e a morte da iniciativa” (http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2010/03/o-motor-do-consumismo-e-a-morte-da-iniciativa.html). São posts, não livros. E, se você é um otimista nato, não devem abalar sua fé, apenas iluminar seu senso crítico. Lembre-se que, no fim, tudo vai dar certo.

quinta-feira, 11 de março de 2010

"Minha alma canta..."

"... vejo o Rio de Janeiro..", esse post é só porque, Rio eu gosto de você... :))
Brincadeiras à parte, acabo de passar uns ótimos e ensolarados dias na Cidade Maravilhosa. E, espanto: volto sem a velha impressão de sujeira e violência que mantive desde a primeira estadia, há 18 anos. Também, 18 anos, você deve estar pensando, muita coisa muda em 18 anos. Mas nem sempre, e os noticiários não contribuíam em nada para melhorar a imagem desta grande cidade.

Enfim, as entradas para os principais pontos turísticos continuam caras, especialmente se você comparar com outras atrações de cidades famosas no mundo, e na primeira noite uma chuva quase nos deixou ilhados - eu e o maridão. Mas, tirando isso, o sol foi pontualíssimo (e sempre muito quente, claro), andei por Copacabana (à noite, inclusive), visitei o Centro e suas antiguidades e tive uma vista pra lá de bonita do alto do Pão de Açúcar. Isso sem falar numa comédia teatral excelente ("A Morte Bate à Sua Porta", no teatro Ipanema - se estiver por aí, assista), comida da melhor qualidade e táxi a preço de banana (se comparado ao praticado em nossa recôndita província catarinense). Nem os vôos de avião atrasaram, pasme!

Mas houve um porém - sempre existe um, do contrário o caro leitor pensaria que é sorte demais para uma pessoa só: na volta de Curitiba, já de carro, pegamos um acidente na BR, e ficamos bem umas três horas esperando liberar a pista... dos males, o menor.

No mais, este parece ser um ano em que meu horóscopo vai funcionar: as mudanças anunciadas começam a dar as caras. Mas elas vão esperar um outro post..