sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Rabiscos - Eleições 2010

29/10/10 - Último dia de propaganda eleitoral "gratuita":


31/10/10 - Eleição para Presidente - Segundo Turno:


02/11/10 - Dia de Finados...



quinta-feira, 28 de outubro de 2010

À Moda Antiga

Se nos últimos dez anos você não tiver ido a nenhuma festa de casamento, talvez não entenda este post. Sei que esta é uma possibilidade pouco provável, porque festa de casamento é como gripe: todo ano aparece uma que a gente não consegue evitar. A diferença é que, ao invés de se gastar com médicos e remédios, as roupas e presentes é que esvaziam nossos bolsos. Mas gosto de pensar nas exceções, então, achei por bem deixar um aviso logo no início deste primeiro parágrafo.  
Seguindo adiante, com a banalização do divórcio, creio mesmo que a epidemia dos casórios venha aumentando. Fulano casa com Sicrana e vivem três anos juntos: o primeiro amando-se loucamente, o segundo irritando-se mutuamente e o terceiro exercitando a indiferença recíproca. Então contratam um advogado, gastam o valor de mais um carro na separação (o primeiro foi para a festa de casamento) e, finalmente livres, começam a namorar a próxima vítima e guardar dinheiro para uma nova festa de casamento.
E a festa, ou melhor, A Festa, tem de tudo: convites luxuosos, vestido de noiva que custou uma barbaridade indizível, lembrancinhas que são verdadeiras obras de arte, decorações de cair o queixo e até aluguel de limusine para levar a noiva à igreja. Os noivos, coitados, passam a noite (ou o dia) posando para sessões de fotos intermináveis e mal têm tempo de provar o bolo que ficará realmente lindo no vídeo, provavelmente o único recurso que permitirá aos pombinhos saber como foi essa cerimônia inesquecível. Tudo muito perfeito - tudo de uma frieza de dar dó. 
Esta semana caiu em minhas mãos o livro “Pequenas Histórias de São Bento”, um relato de 40 figuras históricas deste lugar pitoresco. São Bento do Sul, para quem não sabe, é uma cidade de colonização alemã que surgiu lá pelos idos de 1873 no topo da Serra Dona Francisca, em Santa Catarina. Escrito por meu pai - Donald Malschitzky (pausa para um “merchan”) -  entre outras coisas o livro mostra um breve panorama da vida que se levava há 50, 60 anos. E agora você deve estar se perguntando “o que uma coisa tem a ver com a outra?”. 
Lendo o relato de donos de salão “daquele tempo” (Alvino Beckert, do Salão Beckert, e Hilda Pauli, do Salão Pauli) descubro aos poucos algumas particularidades dos casamentos de antigamente. A primeira é que cada convidado pagava a sua conta: os noivos tinham que guardar dinheiro para começar a vida (porque ninguém mais entende essa verdade lógica?). A segunda, impensável nos dias de hoje, é que o baile era aberto para qualquer um: noivos e convidados não pagavam entrada, e o valor arrecadado com os ingressos era dividido entre os donos do salão e os noivos. Acredite se quiser.
Casamentos sem plumas e paetês, que duravam a vida inteira. Tão mais acolhedores que as complicadas cerimônias de hoje. Usando as palavras de dona Hilda “acho que um casamento assim, simples, é muito mais divertido do que esses casamentos chiques de hoje”. E ela complementa: “Sempre ouço falar: ‘Ah! Fomos no casamento tal, foi tão chique, tão bom’. Parece que todos só se preocupam com as roupas, a apresentação; ninguém se preocupa com os noivos, com a vida que vão seguir”. 

É isso. Saudades dos tempos não vividos. 

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Surdo Funcional

Você deve conhecer o termo “analfabeto funcional” -  o sujeito que, mesmo sabendo ler e escrever, não consegue interpretar textos ou executar operações matemáticas. Infelizmente, uma parte considerável da população brasileira. Pois bem, deixando constatações políticas e humanitárias de lado, analfabeto funcional é fichinha perto do surdo funcional. 
Não falo daquelas pessoas que nasceram com alguma deficiência auditiva, mas dos que, parodiando analfabetos funcionais, têm todas as suas funções positivas e operantes e ainda assim insistem em não escutar nada do que os outros falam. 
A cena é típica: você tem a infeliz ideia de perguntar qualquer coisa para o surdo funcional e ele responde, sem dar brecha para comentários. Você até aproveita a primeira ou segunda pausa que ele faz para respirar e retruca, mas o sujeito simplesmente ignora e continua sua eterna ladainha, como se a vida dele fosse a única coisa interessante no mundo. 
Não é possível estabelecer um diálogo com essas pessoas: para elas, só o monólogo existe, embora muitas nem saibam o conceito de monólogo. Narcisismo, egoísmo, chatice de carteirinha? Difícil definir a causa da “deficiência”, mas certamente afeta algum lugar no cérebro que controla a percepção de mundo dos ditocujos. Para eles, tudo se resume a sua limitada experiência de vida - o resto é vácuo.
Se você convive com alguém assim, não jogue a toalha tão cedo - esta que vos escreve vasculhou o Google e encontrou uma solução para ao menos minimizar a síndrome: use o telefone. O conselho veio do escritor Mário Prata, que abordou o assunto em uma de suas crônicas. “Descobri que as pessoas que não ouvem, só não ouvem ao vivo. Mas se você telefonar, elas te escutam, te ouvem, enfim, falam com você. Não sei qual é a mágica do telefone para fazer trazer aquelas pessoas à nossa realidade e ao nosso mundo. Aí passei a só falar com este tipo de gente por telefone. Se a ligação for interurbana, ele ouve mais ainda.” (Mário Prata - Revista BCP - fevereiro de 2003)
Então, da próxima vez que encontrar um surdo funcional pela frente, segure a vontade de gritar, diga que tem um compromisso urgente (quando você virar as costas ele deve prestar atenção) e peça para ligar no dia seguinte. Ele ficará agoniado, mas ao menos vocês irão conversar. 
Importante: não confundir surdos funcionais com falantes por natureza. Os últimos falam por prazer, mas sabem ouvir quem os rodeia, participar de conversas e responder a questionamentos simples, como “por que você teima em contar sempre a mesma história?”.