quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um candidato com coragem

Difícil falar de eleição em tempos de Copa. Com o país todo sintonizado na África do Sul, ninguém quer saber de política, propostas de governo ou afins. Feliz ou infelizmente, minhas noções sobre futebol restringem-se a umas poucas regras e o nome de alguns times de maior destaque, o que me permite pensar em assuntos mais sérios no intervalo entre os jogos da seleção canarinho.

É pena que tantos brasileiros estejam, ao menos em mente e espírito, do outro lado do oceano. Senão poderiam dar-se conta de que os candidatos não defenderão tudo aquilo que realmente acreditam nessas eleições. Nem nunca defenderam. Eleição por aqui é só um jogo de “me engana que eu gosto” para decidir, de uma forma democraticamente estúpida, quem será o próximo fantoche a nos representar.

Indignações à parte, hoje acordei otimista. Havia, enfim, encontrado um critério de desempate que me permitiria escolher em quem desperdiçar menos meu voto nesta eleição para presidente. A coragem. Iria votar – pensava eu lá pelo meio da manhã – no candidato que tivesse a coragem de apresentar propostas que não fossem meramente eleitoreiras, mas necessárias, mesmo que isso significasse ir contra uma parcela significativa da população. Um exemplo: acabar com a política de cotas nas universidades (que é totalmente inconstitucional) e apresentar um plano sério e bem estruturado de investimentos no ensino fundamental. Não vou perder muitos parágrafos aqui explicando porque criar cotas em universidades públicas é tapar o sol com a peneira, até porque já devo ter explicado mil vezes meu ponto de vista sobre o assunto – enfim, foi um exemplo.

Então – santa ingenuidade – comecei a procurar pelas propostas dos três principais candidatos à presidência e, claro, não encontrei nadinha. Lá se foi meu otimismo pelo ralo. Voltei à estaca zero. Afinal, a desinformada aqui não havia se dado conta de que primeiro os partidos precisam definir todas as alianças, sob pena de defender alguma bandeira não muito amada por seus futuros aliados. É que partido, no Brasil, não tem ideologia, e candidato também não. Se olhar bem de perto, é tudo índio da mesma taba, só mudam os caciques. E eu querendo um candidato com coragem. Vai sonhando, vai.

Um comentário:

Rogério disse...

Querida Débora.
Há tempos cheguei a conclusão.
Em nosso país não existe partido político que tenha uma ideologia que seja contra outra.
No Brasil, existe somente a guerra entre os que estão no governo (e não querem sair) e os que querem entrar.
A nós, cabe a obrigação legal de escolher quem estará dentro.
Tristeza.
Coragem? Isto é coisa que não existe na política brasileira.