Se nos últimos dez anos você não tiver ido a nenhuma festa de casamento, talvez não entenda este post. Sei que esta é uma possibilidade pouco provável, porque festa de casamento é como gripe: todo ano aparece uma que a gente não consegue evitar. A diferença é que, ao invés de se gastar com médicos e remédios, as roupas e presentes é que esvaziam nossos bolsos. Mas gosto de pensar nas exceções, então, achei por bem deixar um aviso logo no início deste primeiro parágrafo.
Seguindo adiante, com a banalização do divórcio, creio mesmo que a epidemia dos casórios venha aumentando. Fulano casa com Sicrana e vivem três anos juntos: o primeiro amando-se loucamente, o segundo irritando-se mutuamente e o terceiro exercitando a indiferença recíproca. Então contratam um advogado, gastam o valor de mais um carro na separação (o primeiro foi para a festa de casamento) e, finalmente livres, começam a namorar a próxima vítima e guardar dinheiro para uma nova festa de casamento.
E a festa, ou melhor, A Festa, tem de tudo: convites luxuosos, vestido de noiva que custou uma barbaridade indizível, lembrancinhas que são verdadeiras obras de arte, decorações de cair o queixo e até aluguel de limusine para levar a noiva à igreja. Os noivos, coitados, passam a noite (ou o dia) posando para sessões de fotos intermináveis e mal têm tempo de provar o bolo que ficará realmente lindo no vídeo, provavelmente o único recurso que permitirá aos pombinhos saber como foi essa cerimônia inesquecível. Tudo muito perfeito - tudo de uma frieza de dar dó.
Esta semana caiu em minhas mãos o livro “Pequenas Histórias de São Bento”, um relato de 40 figuras históricas deste lugar pitoresco. São Bento do Sul, para quem não sabe, é uma cidade de colonização alemã que surgiu lá pelos idos de 1873 no topo da Serra Dona Francisca, em Santa Catarina. Escrito por meu pai - Donald Malschitzky (pausa para um “merchan”) - entre outras coisas o livro mostra um breve panorama da vida que se levava há 50, 60 anos. E agora você deve estar se perguntando “o que uma coisa tem a ver com a outra?”.
Lendo o relato de donos de salão “daquele tempo” (Alvino Beckert, do Salão Beckert, e Hilda Pauli, do Salão Pauli) descubro aos poucos algumas particularidades dos casamentos de antigamente. A primeira é que cada convidado pagava a sua conta: os noivos tinham que guardar dinheiro para começar a vida (porque ninguém mais entende essa verdade lógica?). A segunda, impensável nos dias de hoje, é que o baile era aberto para qualquer um: noivos e convidados não pagavam entrada, e o valor arrecadado com os ingressos era dividido entre os donos do salão e os noivos. Acredite se quiser.
Casamentos sem plumas e paetês, que duravam a vida inteira. Tão mais acolhedores que as complicadas cerimônias de hoje. Usando as palavras de dona Hilda “acho que um casamento assim, simples, é muito mais divertido do que esses casamentos chiques de hoje”. E ela complementa: “Sempre ouço falar: ‘Ah! Fomos no casamento tal, foi tão chique, tão bom’. Parece que todos só se preocupam com as roupas, a apresentação; ninguém se preocupa com os noivos, com a vida que vão seguir”.
É isso. Saudades dos tempos não vividos.
2 comentários:
Adorei... de fato me fez parar um pouquinho para relembrar os últimos casamentos que tenho ido. Aliás, eu que sou casada à 11 anos, e de lá pra cá muita coisa mudou, sempre repito a mesma frase: ainda bem que eu já casei. Porque infelizmente as festas são quase que uma competição de quem "casa melhor"... então tá!
Débora, seus textos estão cada vez melhores: enxutos e indo direto ao alvo. Parabéns. Se quiser, pode dizer que é herança genética...
Obrigado pela propaganda de meu livro. Quando criança, fui a dois casamentos desses e lembro que todos se divertiam um monte e pasme: não havia ninguém orientando os noivos, padrinhos etc. para que tudo ficasse dentro do "script".
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