quinta-feira, 28 de outubro de 2010

À Moda Antiga

Se nos últimos dez anos você não tiver ido a nenhuma festa de casamento, talvez não entenda este post. Sei que esta é uma possibilidade pouco provável, porque festa de casamento é como gripe: todo ano aparece uma que a gente não consegue evitar. A diferença é que, ao invés de se gastar com médicos e remédios, as roupas e presentes é que esvaziam nossos bolsos. Mas gosto de pensar nas exceções, então, achei por bem deixar um aviso logo no início deste primeiro parágrafo.  
Seguindo adiante, com a banalização do divórcio, creio mesmo que a epidemia dos casórios venha aumentando. Fulano casa com Sicrana e vivem três anos juntos: o primeiro amando-se loucamente, o segundo irritando-se mutuamente e o terceiro exercitando a indiferença recíproca. Então contratam um advogado, gastam o valor de mais um carro na separação (o primeiro foi para a festa de casamento) e, finalmente livres, começam a namorar a próxima vítima e guardar dinheiro para uma nova festa de casamento.
E a festa, ou melhor, A Festa, tem de tudo: convites luxuosos, vestido de noiva que custou uma barbaridade indizível, lembrancinhas que são verdadeiras obras de arte, decorações de cair o queixo e até aluguel de limusine para levar a noiva à igreja. Os noivos, coitados, passam a noite (ou o dia) posando para sessões de fotos intermináveis e mal têm tempo de provar o bolo que ficará realmente lindo no vídeo, provavelmente o único recurso que permitirá aos pombinhos saber como foi essa cerimônia inesquecível. Tudo muito perfeito - tudo de uma frieza de dar dó. 
Esta semana caiu em minhas mãos o livro “Pequenas Histórias de São Bento”, um relato de 40 figuras históricas deste lugar pitoresco. São Bento do Sul, para quem não sabe, é uma cidade de colonização alemã que surgiu lá pelos idos de 1873 no topo da Serra Dona Francisca, em Santa Catarina. Escrito por meu pai - Donald Malschitzky (pausa para um “merchan”) -  entre outras coisas o livro mostra um breve panorama da vida que se levava há 50, 60 anos. E agora você deve estar se perguntando “o que uma coisa tem a ver com a outra?”. 
Lendo o relato de donos de salão “daquele tempo” (Alvino Beckert, do Salão Beckert, e Hilda Pauli, do Salão Pauli) descubro aos poucos algumas particularidades dos casamentos de antigamente. A primeira é que cada convidado pagava a sua conta: os noivos tinham que guardar dinheiro para começar a vida (porque ninguém mais entende essa verdade lógica?). A segunda, impensável nos dias de hoje, é que o baile era aberto para qualquer um: noivos e convidados não pagavam entrada, e o valor arrecadado com os ingressos era dividido entre os donos do salão e os noivos. Acredite se quiser.
Casamentos sem plumas e paetês, que duravam a vida inteira. Tão mais acolhedores que as complicadas cerimônias de hoje. Usando as palavras de dona Hilda “acho que um casamento assim, simples, é muito mais divertido do que esses casamentos chiques de hoje”. E ela complementa: “Sempre ouço falar: ‘Ah! Fomos no casamento tal, foi tão chique, tão bom’. Parece que todos só se preocupam com as roupas, a apresentação; ninguém se preocupa com os noivos, com a vida que vão seguir”. 

É isso. Saudades dos tempos não vividos. 

2 comentários:

Tania Dagostim disse...

Adorei... de fato me fez parar um pouquinho para relembrar os últimos casamentos que tenho ido. Aliás, eu que sou casada à 11 anos, e de lá pra cá muita coisa mudou, sempre repito a mesma frase: ainda bem que eu já casei. Porque infelizmente as festas são quase que uma competição de quem "casa melhor"... então tá!

Donald Malschitzky disse...

Débora, seus textos estão cada vez melhores: enxutos e indo direto ao alvo. Parabéns. Se quiser, pode dizer que é herança genética...
Obrigado pela propaganda de meu livro. Quando criança, fui a dois casamentos desses e lembro que todos se divertiam um monte e pasme: não havia ninguém orientando os noivos, padrinhos etc. para que tudo ficasse dentro do "script".