segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A arte de fazer bolinhos de chuva



Não há nada mais aconchegante do que comer bolinhos de chuva acompanhados de uma boa xícara de café em dia de inverno. Se estiver chovendo então, melhor ainda. Minha mãe costumava fazer essa receita para o café da tarde quando éramos crianças, com direito a replays esporádicos nas tardes de sábado agora que entramos na amadurescência. Café da Tarde, para quem não sabe ou já esqueceu, é aquela refeição entre o almoço e o jantar, servida entre as 15 e 16 horas, que some subitamente da sua vida depois que você entra para o almejado Mercado de Trabalho. De qualquer forma, desconfio que ela já esteja na lista dos hábitos em extinção até para quem não chegou lá ainda. Uma pena.  
Ontem, final de domingo, frente fria chegando, me vi na cozinha preparando os tais bolinhos. A receita não tem segredo: um ovo, um pouco de açúcar, trigo, leite, mais um pouco de trigo, fermento - tudo batido até o ponto de massa de bolo (crua, claro). Depois é esquentar o óleo (o suficiente para os bolinhos boiarem), pegar uma colher média e outra pequena e ir despejando pequenas porções na panela. Tudo na base da intuição. E eles ficam redondos feito grandes gotas, macios e saborosos, com gosto de lar doce lar. 
Fazer bolinhos de chuva redondos e macios ao invés de monstrinhos de chuva* é como escrever ou interpretar - tem que sair da alma para ser perfeito. O pulo do gato não está na técnica, embora ela seja necessária, mas na quantidade de amor que você coloca na tarefa. Quando há envolvimento genuíno tudo flui com leveza e fica inesquecível, preenchendo aqueles lugares secretos da mente feitos especialmente para guardar as lembranças boas. 
*”monstrinhos de chuva” é o termo que usamos aqui em casa para nomear aqueles bolinhos que ficam desfigurados quando fritos, mas não necessariamente menos saborosos. 

3 comentários:

Jura Arruda disse...

Voltei à infância, aos cafés da tarde, aos bolinhos de chuva, à chuva, à simplicidade de cozinhar com farinha e carinho, que o tempo aos poucos ou subitamente nos rouba pra sempre, até nos depararmos com uma frigideira, uma ideia, uma lembrança. Beijabraço, Dé! Delícia de texto.

Luiz Felipe De Nardi Goulart disse...

Eu queroooo. Vou postar a receita no meu Blog, visto que esta semana estou de férias e aqui em Joinville não deverá parar de chover tão cedo.

Gostei do Blog.

o/ @opapudo

Rogério disse...

Ah, que bons os tempos em que os bolinhos de chuva (com banana, de preferência) eram só nossos, no café da tarde, com bastante açúcar, café e amor de mãe.
Que coisa maravilhosa lembrar dos cheiros, dos gostos e sensações da infância. Época em que não tínhamos que estar sempre super humanos para suportar as pressões do mundo. Nosso mundo era a escola, amigos e família. E apesar de algumas broncas (em nome do bom comportamento e educação), existia sempre o amor que era maior e estava à frente de tudo.
Precisamos de mais bolinhos de chuva em nossas tardes, para tornar o dia mais leve.