terça-feira, 24 de abril de 2007

Outro sintoma da proximidade dos 30 é a repetição: a gente "não se dá conta" do quanto repete algumas expressões nos textos que escreve...

domingo, 22 de abril de 2007

30 anos

De repente me dou conta do que significa ser uma mulher de 30 anos (atualmente, vivo os últimos meses dos vinte, e sair desse período de “juventude” para entrar na maturidade oficial tem sido assunto recorrente nos meus momentos de reflexão). É como se, subitamente, nos déssemos conta de que tudo vai acabar um dia, e é necessário consertar as coisas enquanto ainda não precisamos de fraldas e uma cadeira de rodas para viver decentemente.

E isso, essa urgência em resolver tudo, nos torna fortes e determinadas como nunca. Mulheres, enfim.

Passei anos me lamentando de problemas que não conseguia resolver – porque atribuía ao mundo a responsabilidade por eles. E somente há alguns meses me dei conta de que esse turbilhão de problemas que costumava me tirar o sono e a alegria nas horas mais impróprias foi, em sua maioria, causado e perpetuado por mim.

Difícil encarar uma verdade dessas. Talvez isso só tenha sido possível pelo sentimento de finitude que os 30 anos representam para uma mulher. A ameaça da velhice, de se ver feia e sozinha, sem ter realizado sequer metade do que sonhamos, mexe com a gente de uma forma indescritível.

É quase injusto ter essa percepção somente depois de tanto tempo. Pois é só agora que nos encontramos em condições de viver a vida plenamente – e lá adiante, mais perto do que nunca, já está fincada a sentença do fim.

Mas deixemos o fatalismo para os setenta, e façamos de conta que essa década que nos espera levará 50 anos para terminar. Enquanto isso, um trecho sobre as “balzaquianas”:

"Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis para um rapaz... Com efeito, uma jovem tem ilusões, muita inexperiência, e o sexo é bastante cúmplice do amor... ao passo que uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios que tem a fazer. Lá onde uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas à do amor, a outra obedece a um sentimento consciente. Uma cede, a outra escolhe... dando-se, a mulher experiente parece dar mais do que ela mesma, ao passo que a jovem, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode compara nem apreciar... Uma nos instrui, nos aconselha... a outra quer tudo aprender... Para uma jovem seja amante, precisa ser muito corrompida, e então é abandonada com horror, enquanto uma mulher possui mil modos de conservar a um tempo seu poder e sua dignidade... A jovem... acredita ter dito tudo despindo o vestido; mas uma mulher... se esconde sob mil véus... afaga todas as vaidades... Chegando a essa idade, a mulher sabe consolar em mil ocasiões em que a jovem só sabe gemer. Enfim, além de todas as vantagens de sua posição, a mulher de trinta anos pode se fazer jovem, desempenhar todos os papéis, ser pudica e até embelezar-se com a desgraça.” (A Mulher de 30 Anos – Honoré de Balzac)

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Acordada

Não sei não
Escrevendo à uma hora dessas, devo estar fora de mim
Fora do corpo
Levitando em um teclado irreal
Cinderela sem sapatos de cristal
Nem carruagem de abóbora
Não sei não
As palavras vêm em bandos
E vão embora
Vão e vem, vem e vão
Ah, noite adentro
E a sensação do sono batendo à porta
- Já vou! Já vou...

terça-feira, 10 de abril de 2007

A Páscoa foi boa. Todo mundo reunido, muito riso, comida, bebida (claro) e uma sensação de paz que há tempos não sentia. Estou leve, num daqueles dias em que tudo parece possível. E talvez seja mesmo. Ouvi em algum lugar que felicidade é quando não desejamos nada além daquilo que temos e somos. É assim que me sinto hoje. Tudo parece perfeito. Complementando o pensamento, acho que felicidade mesmo só é possível no tempo presente. Porque naquilo que já vivemos fica sempre um pouquinho de saudade - uma tristeza disfarçada - e o que está por vir é carregado de expectativa - e felicidade completa leva mais paz do que ansiedade na receita.

Então, feliz Terça-feira, 13h27min e os segundos que vão passando!

terça-feira, 3 de abril de 2007

Do Vazio ao Verso

Duas ou três páginas de rabiscos
E as impressões brancas no papel
Escrever é uma arte temporal

Pena que as palavras fluem quando estamos sem tinta
(ou sem teclado, nesses dias de pressa)
Mais tarde, há que se espremer lembranças
Espantar as inutilidades - palavras que vêm em bandos
Há que se buscar as rimas
Preencher a folha em branco
E ver o verso, pequenininho
Tomar forma
Deixando nascer a metáfora

domingo, 1 de abril de 2007

"Escribirte, escribirte, dibujarte. Llenarte el pelo de todas las palabras detenidas, colgadas en el aire, en el tiempo, en aquella rama llena de flores amarillas del cortes cuya belleza me pone los pelos de punta cuando vengo bajando sola, por la carretera, pensando. Definir el misterio, el momento preciso del descubrimiento, el amor, esta sensación de aire comprimido dentro del cuerpo curvo, la explosiva felicidad que me saca las lágrimas y me colorea los ojos, la piel, los dientes, mientras voy volviéndome flor, enredadera, castillo, poema, entre tus manos que me acarician y me van deshojando, sacándome las palabras, volteandome de adentro para afuera, chorreando mi pasado, mi infancia de recuerdos felices, de sueños, de mar reventando contra los años, cada vez más hermoso y más grande, más grande y más hermoso. (...)"

Escribirte - Gioconda Belli