quinta-feira, 22 de abril de 2010

“Crônicas de uma Quase Dona de Casa” ou “O Fim dos Pretextos para Não Cozinhar” ou “Não Espere muito de um Serviço”

Há mais ou menos dois meses, em um dos raros episódios em que decidi usar meus adormecidos dotes culinários (leia-se pegar um pacote de pães de queijo congelados e colocar em uma fôrma) tive uma experiência inusitada. Abri o forno, girei o botão do gás e acendi o fósforo, segurando-o próximo ao queimador e, surpresa: ele não estava lá. Isso mesmo, o queimador, ou sei lá que nome tem aquele treco de onde sai o gás nos fornos caseiros, tinha sumido. Teletransporte? Magia? Coisa que apenas a insólita física quântica explica? Não, caro leitor. Ele apodreceu e caiu mesmo. E juro que fiquei surpresa, porque nunca tinha visto isso acontecer e o fogão, apesar de velho, até que mantinha uma aparência razoável por fora (se bem que eu não costumava olhar muito para ele).

O episódio afetou significativamente os hábitos alimentares aqui de casa, eliminando uma parte importante de nosso cardápio noturno, composta por aqueles alimentos congelados que só ficam bons quando assados em fornos a gás ou elétricos. Não me interprete mal. Eu gosto de cozinhar. Sério. Mas sou meio fresca com esse negócio de cozinha – preciso de muito espaço, recipientes apropriados e, principalmente, tempo. Muito tempo. Ah, também não gosto de gente demais ao redor, palpitando. Então, como a cozinha aqui de casa sempre foi uma união de móveis bem baratos, algumas doações e amontoados de caixas que não cabiam em lugar nenhum, simplesmente abdiquei do posto de “personal chef” pelo maior tempo que pude.

Mas então perdemos o forno, e os cupins que mantinham o lavador em pé já começavam a dar sinais de que iriam abandonar a luta (certo dia, uma das gavetas caiu sozinha, e as outras não estavam com cara de que iriam agüentar muito tempo). Fazendo uma análise estratégica da situação, concluímos que a tão sonhada casa nova não sairia do papel tão cedo, mas o que restava da cozinha estava prestes a nos deixar na mão se não tomássemos uma providência urgente.

Pois bem, resolvemos que, enfim, teríamos uma cozinha nova, sob medida, que acabaria com todos os nossos problemas de espaço e alimentação. Parecia fácil, rápido e indolor. Pesquisa daqui, faz um orçamento lá, logo achamos um fornecedor dentro de nossas expectativas arquitetônicas e financeiras. E foi então que a realidade começou a fazer em pedaços nosso conto de fadas doméstico.

Sinceramente, eu achava que era só tirar as medidas, acertar o projeto, pagar e pronto: móveis novinhos apareceriam feito mágica lá em casa. Não tinha a menor noção de todos os entraves que envolvem os móveis sob medida. Primeiro, há a instalação elétrica. Você não acha mesmo que aquelas duas tomadas que tem na cozinha vão chegar para mais um forno, um exaustor e todas as parafernálias futuras que um dia entrarão em sua casa. É preciso pensar em tudo, porque uma cozinha sob medida não pode ser retirada do lugar para refazer uma instalação mais tarde. Ou melhor, até pode, mas você não vai querer fazer isso.

Depois tem o encanamento. Aquela gambiarra para levar água até a lava-louça não pode mais continuar ali. Você tem que chamar um encanador ou aprender sozinho (melhor chamar o encanador) a instalar o tal do sifão, uma outra torneira (porque aquela que você tinha é baixa demais para o novo lavador), o filtro... Ah, e tem a instalação dos móveis, claro. Pensou que era só apertar um botão e eles se colocariam automaticamente no local? Sem falar no preço de tudo isso que você não tinha contabilizado. Como o granito, por exemplo, ou as banquetas da cozinha (minha cozinha era tão abandonada que não tinha mesa ou cadeiras).

Resolvidas mais estas pendengas, o problema estava quase no fim, ou era isso que a gente pensava. Sabe, eu não acredito em serviço eficiente no Brasil. Aliás, ainda não acredito em serviço eficiente em parte alguma do mundo. Mas tenho esse lado meio besta que gosta de dar uma chance para todo mundo – “todos cumprirão o que prometem até que se diga o contrário”. Refletindo sobre isso hoje de manhã, chegamos à conclusão que o melhor é não criar expectativas. Assim, se tudo der certo, a gente fica muito feliz. E, se der errado, bom, “eu avisei... “.

Explico: a tal empresa que contratamos ligou semana passada dizendo que estava tudo pronto, e poderiam instalar os móveis na segunda-feira se estivesse bom para nós. Infelizmente não estava bom para nós, então, reagendamos para hoje de manhã, oito horas. Tudo acertado, passamos o feriado retirando panelas, alimentos e materiais de limpeza da cozinha (porque a lavanderia também entrou no pacote), doamos os móveis, nosso apartamento ficou parecendo um daqueles centros de doação para famílias desabrigadas, e em dois dias, no máximo, teremos nossa vidinha de volta, muito mais confortável.

Então acordo hoje pelas sete e meia, tomo café, ligo o computador (trabalho em casa para poder receber o pessoal dos móveis), olho no relógio, oito horas, nada. Tudo bem, que cheguem oito e meia, vai, meia hora de atraso é aceitável. Mas ninguém apareceu oito e meia, nem nove horas. Nem às nove e meia, hora que a moça que atendeu o telefonema indignado disse que estariam aqui. Os móveis chegam só às dez e quinze, mas sem um detalhe fundamental: o montador. Aquele cara que pega as tábuas de mdf e transforma em armários, gavetas e outros aparatos de nomes menos conhecidos. Pois é.

Mas ele vinha de manhã, tentou se explicar o homem, só que esqueceram de agendar a entrega dos móveis. Imagina, todo mundo esquece isso, claro. Porque eu ficaria indignada? Resumo da ópera, a montagem começou às duas da tarde, e teve que parar às seis – regras do condomínio. E no meio da tarde, como para colocar uma cereja nesse bolo de gosto duvidoso, o outro cara, que fará as peças em granito, liga perguntando se já está tudo pronto e ele pode passar aqui agora à noite para medir os móveis. Detalhe: ele trabalha na mesma empresa que fez os móveis. Incompetência pouca é bobagem.

Ou seja, amanhã teremos mais um longo dia de bagunça na cozinha, que deve se estender até a próxima segunda-feira, quando finalmente tudo estará em seu devido lugar. Ou não. Agora já conto com a possibilidade do montador ter outro serviço agendado para segunda, afinal o nosso era para terminar sexta. Moral da história: todo mundo cumpre o que promete na hora de vender, mas pouquíssimos conseguem manter a promessa na hora de entregar. Com exceção talvez do nosso eletricista, que superou todas as nossas expectativas no que diz respeito a prazos. Segunda moral da história? A gente pode até se incomodar muito, mas no final sempre tem história para contar. Desejem-me sorte amanhã.

Um comentário:

Maridão disse...

Só para constar, a empresa que fez os móveis é a Almeidas Móveis em Joinville, e o eletricista de confiança é o Edson. Podem ligar sem medo 9924-8690