Confesso que esses anúncios de vagas me intrigam. Hoje mesmo recebi um para seleção de estagiários. Entre os requisitos, pasmem, era “desejável experiência”. Daí me pergunto: experiência em quê? Produção de trabalhos escolares? Engabelação de professores? Provas de final de bimestre? Sim, porque estagiário, diz nosso pai dos burros, é “aquele que está fazendo estágio”, e estágio, neste contexto, é o “tempo de prática ou tirocínio para o exercício de certa profissão”. Abre parênteses. Tirocínio, eu também não sabia, refere-se aos “primeiros exercícios, aprendizado”. Fecha parênteses. Ou seja, em termos bem claros: estagiário é aquele que não tem experiência na profissão.
Ah, mas também, não é todo mundo que tem tempo para abrir dicionário. E a legislação é tão complexa que a gente nunca lembra dos detalhes. Como, só para dar um exemplo, o capítulo que fala das definições de estágio. Olha só como é grande o primeiro artigo!
Art. 1º Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam freqüentando o ensino regular, em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos.
Ironias à parte, e antes que alguém resolva colocar a culpa no estagiário de RH que divulgou a vaga (isso seria de chorar), sei que o governo não ajuda, que é muito caro manter um trabalhador formal, que gestores têm metas para reduzir o orçamento, que a crise acabou mas pode voltar, etc, etc e etc. Agora, custa tanto assim apostar num estudante sem experiência?
Garanto que as escolas e faculdades estão cheias de gente louca por uma oportunidade, e que, se contratada, em pouco tempo faria as empresas esquecerem da tal “experiência desejável”.
Senhores empresários, gestores, profissionais de RH ou futuros donos de qualquer negócio: apostem em novos talentos e mostrem para os brasileiros que é possível crescer sem dar um “jeitinho”. Ou contratem profissionais. A sociedade agradece.
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