domingo, 30 de janeiro de 2011

Marinheiros de Primeira Viagem

Vista da piscina - Horizon

Como bons brasileiros, aqui em casa temos uma certa dificuldade em planejar coisas como viagens de férias de verão com antecedência. Em outros períodos do ano tudo parece ser muito mais simples de organizar, mas no verão... o calor só faz pensar em praia, os hotéis ficam lotados e absurdamente caros, e as casas para alugar são sempre uma surpresa (a primeira e única experiência nesse sentido não foi, digamos assim, digna de nota). 
Resumindo, lá pelos 45 do segundo tempo passamos em uma agência de viagens - o que vai contra os princípios desta que vos escreve pelo simples fato de que fazer tudo por conta costuma ser: 1- Muito mais barato; 2 - Extremamente enriquecedor; 3 - Estupidamente flexível. Mas estamos no verão, e coisas malucas acontecem nessa época do ano, como pinheirinhos enfeitados que brotam em salas de estar e gente que compra pacotes de viagem. Então, eis que saímos de férias em nosso primeiro cruzeiro.
O restante do post está dividido em subtítulos para facilitar a navegação de quem procura por dicas de viagens em cruzeiros, mas os curiosos de plantão podem ficar à vontade e também ler isto aqui na ordem que bem entender. 
Um porto para quem mora no Sul

Embarque - Porto de São Francisco do Sul (SC)

Uma das coisas que nos manteve longe dos cruzeiros por todo esse tempo foi o custo: moramos em Santa Catarina e, até há pouco, todas as rotas que saíam do Brasil partiam do Porto de Santos ou de alguma cidade do Nordeste. O que acrescenta valores significativos ao total do pacote, pois é necessário comprar passagens aéreas e terrestres para chegar ao local da partida. Agora, já é possível sair de Itajaí ou de São Francisco do Sul, tornando os passeios bem mais atrativos. Pegamos a rota São Francisco - Vitória, no Horizon, ótima opção para quem decidiu viver a experiência de um cruzeiro pela primeira vez. 
Balança mas não cai
Todo mundo pergunta depois que a gente desembarca do navio: enjoa? Não. Mas, por via das dúvida, leve um remedinho à bordo. Tomamos Dramin no primeiro dia, só por desencargo. E nada aconteceu. A não ser aquela eterna sensação de pilequinho, quando você realmente quis colocar um pé na frente do outro mas ele foi parar lá na extrema esquerda, depois na extrema direita, sabe, igual a político brasileiro (embora receie que os pés destes andem de um extremo a outro em embriaguez proposital).  
Chegar tarde e sentar na janelinha

Data e hora marcadas, chegamos ao Porto de São Francisco do Sul às 11h, num calor de derreter. Não há ar-condicionado no estacionamento do terminal de passageiros, tampouco no porto. E nem ventiladores para amenizar o quase insuportável calor da espera. Em São Chico o navio não atraca no porto - você vai até ele num barco com capacidade para cerca de 70 pessoas. Como havia uns 400 passageiros, dá para imaginar o tempo que isso levou. 
Dica importante: se tiver que deixar o carro no estacionamento, leve sapatos confortáveis, bonés e protetor solar. Despache a bagagem e vá a pé até o porto. Leva de 10 a 15 minutos, e as ruas estreitas com casinhas antigas rendem um belo passeio. Do contrário, terá que esperar pelas vans de 1h a 3h. A fila é bem grande, acredite. 

Janela da cabine

Como não sabíamos de nada disso, resolvemos esperar sentados até que a fila para as vans reduzisse, então, duas horas e meia depois, finalmente chegamos à nossa cabine. A grande surpresa foi a janela no quarto - isso porque havíamos comprado o pacote mais econômico possível, com vista para lugar nenhum. Ganhamos um upgrade! Obrigada agência de viagens - vocês até que não são tão ruins. 
Cabines, não caixas de fósforos
Para casais e pessoas com menos de 1,85m de altura, as cabines são bem confortáveis. Há guarda-roupas e penteadeira, televisão, banheiro, telefone. Só não tem frigobar - mas quem precisa dele afinal? A limpeza da cabine é feita duas vezes por dia, de manhã e à noite, e cada área tem a(o) sua/seu “personal camareira(o)”. Inclusive ao entrar na cabine pela primeira vez ela(e) se apresenta a você e mostra as instalações. Melhor que muito hotel por aí. 
Outra coisa interessante é o diário de bordo. Toda noite é entregue na sua cabine, com a programação do navio no dia seguinte. Leia sempre. 
A gente não quer só comida?

Demonstração culinária - dia de navegação

Drinques - com e sem álcool

A vantagem de comprar um pacote para um cruzeiro com tudo incluso é que você pode comer literalmente a qualquer hora do dia. Verdade. Café da manhã, almoço, lanches, janta, mais lanches, café da manhã... Além das bebidas - sucos, refrigerantes, cervejas, cafés e drinks diversos ao seu alcance nos restaurantes e bares do navio. Dá para enjoar de tanto comer. Mas isso só acontece lá pelo almoço do último dia, quando você já garantiu seus cinco quilos extras. E olha que tem que passar muito mal durante toda a viagem para não engordar em férias assim.
Teatros, música, dança...
Se imagina que a única diversão em um cruzeiro é a piscina, está redondamente enganado - ou vai ficar, depois que fizer a viagem e vasculhar todos aqueles buffets. O navio mantém uma programação diária de shows que misturam música, dança e mágica (ilusionismo?), apresentados toda noite em duas sessões. Pessoalmente, não levava muita fé na qualidade disso tudo, mas tenho que dar o braço a torcer. Vale a pena assistir. 
Além das apresentações no teatro do navio, há ainda muita música ao vivo nos bares e à beira da piscina, além das festas temáticas que acontecem normalmente após o último show da noite. Claro, está tudo incluso no pacote. 
O que não está incluso e só acontece quando o navio não está atracado no porto são os jogos no cassino e as compras no free shop. Os preços deste último não são tão bons assim, mas ainda mais baratos que comprar as mesmas marcas em terra firme.   
Casais com filhos também podem ficar tranquilos: existem equipes de animadores no navio prontas para entreter as crianças por tempo suficiente para os adultos aproveitarem cada segundo das férias. 
Cidades e guias
Paramos num porto do roteiro, e agora? Sinceramente, não é preciso comprar pacotes de passeio (eles são vendidos em separado dentro do navio) para cidade nenhuma em que o navio parar. Eles são caros, cobrados em dólar (vão de 28 a 40 dólares por cabeça), e normalmente não contemplam os preços das entradas nas atrações - como o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, por exemplo. O que eles fazem é levar você até o ponto turístico e depois trazer de volta. Convenhamos, se tem mais de 14 anos você pode fazer isso sozinho gastando bem menos. A dica aqui é pegar um mapa da cidade com os pontos turísticos - normalmente são distribuídos nos portos, mas, para garantir, você pode pesquisar isso em casa antes da viagem - e depois pegar um táxi, ônibus ou mesmo dividir uma van com outros passageiros. 

Parte superior do navio, com vista para o Porto de Vitória (ES) 

Maridão descansando na praia de Camburi - Vitória

Praia do Canto - Vitória

Em Vitória, por exemplo, o porto é colado ao centro da cidade. Você pode fazer um tour a pé pelas atrações históricas e depois pegar um táxi ou ônibus até a praia de Camburi. Perguntamos no mercado municipal e descobrimos um ônibus com ar-condicionado e assentos confortáveis pela bagatela de R$ 3,40 a pessoa. 

Vista do Pão de Açúcar (Praia de Botafogo - Rio de Janeiro)

Praia de Ipanema - Rio de Janeiro


No Rio de Janeiro, como já conhecíamos o clássico roteiro do Cristo Redentor - Pão de Açúcar - Copacabana, saímos do porto, andamos umas três quadras até o metrô e fomos visitar o Aterro do Flamengo e Ipanema. Ressaltando que, para quem deseja conhecer o roteiro padrão, o táxi é barato por lá e vale mais a pena do que os pacotes do navio. 

Piranha (o peixe, óbvio) no Aquário de Santos (SP)

Leitura recomendada
Não leia nada nas primeiras horas de viagem. Nem tente pegar o baralho e jogar uma partidinha de tranca (há uma sala de jogos no navio). O estômago parece não entrar em acordo com os olhos sobre a leitura de coisas tão pequenas e próximas em alto mar. 
Quando estiver devidamente ambientado, recomendo “A Vida, o Universo e Tudo Mais”, do Douglas Adams. Sequência da “trilogia de cinco” iniciada por Adams com “O Guia do Mochileiro das Galáxias”. Este, aliás, útil mas não obrigatório para o devido entendimento do livro. 
Além dos livros, não deixe de passar os olhos no Diário de Bordo do navio, como já mencionado alguns parágrafos acima. 
Aos fanáticos por internet, lamento informar, mas só conseguirão acessá-la quando o navio estiver atracado (ou perto o suficiente da costa, o que dá quase no mesmo). Sinceramente, não saber o que acontece ao resto do mundo só por uns dias não mata ninguém. Dá até uma certa paz (soa estranho vindo de alguém que mantém um blog, eu sei). Mas lembre-se: nossos avós faziam isso o tempo todo. 
Enfim...
Dúvidas, críticas, sugestões - esqueci de algo importante? Deixe seu comentário e retornarei o mais breve possível. Agora vou ali respirar um pouco, que fevereiro bate à porta. 

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