terça-feira, 10 de agosto de 2010

Deus, um delírio?


“A religião convenceu mesmo as pessoas de que existe um homem invisível - que mora no céu - que observa tudo o que você faz, a cada minuto de cada dia. E o homem invisível tem uma lista especial com dez coisas que ele não quer que você faça. E, se você fizer alguma dessas dez coisas, ele tem um lugar especial, cheio de fogo e fumaça, e de tortura e angústia, para onde vai mandá-lo, para que você sofra e queime e sufoque e grite e chore para todo o sempre, até o fim dos tempos... Mas Ele ama você!”
(George Carlin - retirado do livro “Deus, um Delírio”, citação que inicia o capítulo 8.) 
Um dos primeiros livros que ganhei na vida, antes mesmo de aprender a ler (meus pais tinham o bom hábito da leitura e trataram logo de me familiarizar com a experiência), chamava-se “O Velho Testamento para Crianças”. De capa dura, letras grandes e desenhos em traço, passei algum tempo folheando-o antes de ter o conhecimento necessário para desvendá-lo por completo. Naquele tempo* a gente só aprendia a ler de verdade na primeira série. Até lá, o máximo que tínhamos era o a, e, i, o, u e um repeteco eterno de nossos nomes.  
Para a alegria da minha mãe, que se livrou da tarefa de escrever os nomes dos  Menudos  nos corações de papel que eu recortava (todo mundo tem um podre – o meu ao menos vem acompanhado da desculpa de ser pequena demais para ter senso crítico), aprendi a ler com relativa facilidade e pude, lá pelos idos de meus sete anos, iniciar sozinha a leitura do  Velho Testamento (para crianças, notem bem).  
Era um livro assustador. Quase tão perverso quanto a história que a professora contou para minha turma antes da “hora do soninho” no jardim de infância. Tínhamos quatro anos e observávamos aterrorizados a maquete de coração ser substituída por sua versão em preto, enquanto as pobres criancinhas pecadoras eram jogadas no inferno porque haviam mentido. Segundo a professora, nossas mentiras e outros pecados aparentemente sem importância faziam com que o coração fosse ficando negro aos poucos. E, depois de algum tempo, quando ele estivesse completamente negro, iríamos para o inferno. Acolhedor, não? Sem falar no teor racista implícito. Lembro até hoje do pesadelo que tive após essa aula “esclarecedora”. Minha mãe e seu bom senso me tiraram daquela escola depois disso, mas eles não foram suficientes para entender, no início da década de 80, o quão maléficas pareceriam as histórias do Velho Testamento para a imaginação infantil.
Nunca entendi como Deus pôde pedir a Abraão para sacrificar seu próprio filho – mesmo que no final tenha mudado de ideia. E Jó, o que dizer do pobre Jó? Sem falar na incoerência da história de Adão e Eva - que não tem muito a ver com terror, mas com lógica: se só haviam eles de humanos no mundo, com quem seus filhos casaram depois que saíram do paraíso? Mesmo que você seja um fiel seguidor da Bíblia, duvido que nunca tenha feito a pergunta. 

Tudo isso para dizer que finalmente terminei a leitura de “Deus, um delírio”. Já expliquei porque resolvi iniciar essa leitura num post aqui e não vou me repetir, mas, se você tem alguma dúvida, basta ler a citação que reproduzi no primeiro parágrafo para ter um vislumbre dos meus porquês.
Devo confessar que estou há umas três semanas relutando em publicar este post. Falar de Deus é muita responsabilidade, questioná-lo, então, um perigo. Para a alma, se Ele existir e for vingativo como diz o Velho Testamento, e para o corpo, se algum crente radical decidir tomar as dores. Como meu bom senso não é lá essas coisas, decidi seguir em frente. 
Para começar, devo dizer que o livro é bem convincente. Por exemplo, quando faz a intrigante pergunta “quem criou o Criador?”. A teoria do design inteligente diz que criaturas tão complexas como seres humanos, macacos ou zebras não poderiam ser o simples fruto da evolução. Só um Ser Superior poderia projetar todo esse emaranhado de vida tão interdependente quanto diverso. Mas, se só um Ser Superior poderia criar todas essas complexidades, é inevitável pensar que algo ainda mais superior precisou um dia existir e criar o Ser Superior. Afinal, se somos frutos de um design inteligente, como surgiu o Grande Projetista? 
Percebe o quão interminável é o raciocínio? “Eis o mistério da fé.”
Não desejo converter ninguém, apenas colocar as mentes para trabalhar. Continuando, Dawkins aborda muito bem o tema da religião e quão prejudicial ela (ou elas) tem sido para a humanidade. Se não concorda, perca um pouco de tempo para investigar o assunto (mas com imparcialidade). A guerra eterna entre judeus e muçulmanos no Oriente Médio e mesmo o 11 de setembro, para mim, já são exemplos suficientes. 
Há algum tempo abri  mão da minha (religião), embora volta e meia seja levada a missas e cultos, os quais frequento mais por acreditar na energia de tanta gente reunida que nas palavras dos sacerdotes.  Alguém pode argumentar que essa  crença em “energia” também não faz o menor sentido. A resposta é que não consigo ser 100% racional.
Outra pergunta que não quer calar é por que Cristo precisou morrer na cruz para expiar nossos pecados? Quer dizer, se Deus é amor (usando agora a lógica em voga nas religiões modernas), Ele não poderia simplesmente nos perdoar? De onde vem toda essa necessidade de dor e sofrimento? Adoro a filosofia por trás de Jesus Cristo, adoro quando ele reparte o pão, cura os doentes e põe mulheres e crianças em nível de igualdade com os homens, mas nem eu nem o autor do polêmico livro comentado aqui entendemos o motivo da crucificação. Se você tem bons argumentos a favor dela, não hesite em deixar um comentário. 
Ainda não virei uma atéia convicta e talvez nunca o faça. Parte da explicação está na impossibilidade de ser 100% racional. A outra tiro de um trecho do “Deus, um delírio”: “Vivemos perto do centro de um museu de magnitudes cavernosas, enxergando o mundo com órgãos dos sentidos e sistemas nervosos equipados para perceber e entender apenas uma pequena variação mediana de tamanhos, que se movam numa variação mediana de velocidades. (...) Fora dessa gama, até nossa imaginação é deficiente (...)”. Não entenda mal: Dawkins usa essas palavras para justificar a necessidade da ciência em nossas vidas, na medida em que nos fornece continuamente instrumentos para que aumentemos nossa área de visão.
Mas, com toda sua fé na ciência, ele esquece o quão incompreensível alguns fatos podem ser para nós humanos – pelo simples fato de sermos humanos. Talvez nossa lógica seja apenas limitada demais para entender a existência de uma Divindade.
Então, caro leitor, com olhos atentos e coração carente de algo que a evolução pode explicar mas a mente não quer entender, reservo-me o luxo de permanecer em cima do muro, a favor da ciência e do conhecimento, mas também de um Deus que dê à minha e à sua vida um significado maior. Mas sem religiões, por favor. 

*”Naquele tempo”, “no meu tempo”... usar  expressões como estas me faz sentir  o cheiro da naftalina se aproximando. Mas, como o que não tem remédio, remediado está, sigamos em frente.

9 comentários:

Anônimo disse...

Acredito sua experiência inicial com Deus e Sua Palavra começou errado, a todos que já leram o Velho Testamento é notável que uma criança não tem condições de interpretar as passagens, mesmo o texto sendo voltada para crianças. O Velho Testamento utiliza de muita linguagem figurada, e possui textos que é necessário interpretação. Quanto a versão infantil ser horrível, isso nada tem a ver com Deus, um homem qualquer escreveu esse livro pra crianças baseado em textos biblícos, que provavelmente pouco refletem ou nada refletem as passagens originais.

Abraão foi provado por Deus, Deus sabia da fé de Abraão e que ele faria o que Deus determinasse, então Abraão pegou seu filho para oferecer em holocasto, tendo a certeza que aquilo era o melhor a se fazer, ele sabia que servia um Deus de Amor, não foi a toa que Deus não permitiu o sacrifício, Ele quer ensinar e não punir. Dessa passagem tiramos ensinamentos, o dá obediência inquestionável a Deus e o da confiança que Deus sabe o que é o melhor para cada um. Deus usou a fé de Abraão como um exemplo de que fé é o único caminho a Deus.

Já Jó de tão fiel e correto que era, por momentos pensou ser mais mais justo que Deus. Foi aí que Deus resolveu mostrar pra Jó quem era Ele era realmente. Se observares verás que Deus confronta Jó e mostra a ele que a Sua sabedoria e Sua justiça estão muito além do que os olhos de Jó podem ver. Quando ele finalmente perde tudo que ele tinha de bens materiais, quando se vê doente e debilitado e tem apenas o Senhor é que Jó finalmente confessa: “Antes eu te conhecia de ouvir falar, mas agora meus olhos te vêem” (Jó 42:5). No final das contas, ainda Jó foi recompensando com o dobro de tudo que tinha.
Este foi o objetivo de Deus em todo o sofrimento de Jó. Deus usou a ânsia do Diabo para se revelar a Jó. Perceba que o Senhor que provoca quando pergunta: “Viste o meu servo Jó?”. Ele tinha um projeto grandioso na vida de Jó, pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?(Recomendo que leia as passagens inteiras tanto de Abraão como a de Jó para que você tenha melhor entendimento das situações, mas leia de mente e coração aberto, e tenho certeza que você entederá melhor dessa vez).

Você está encarando o Criador e a criação como um relação de causa de efeito, para alguém ter criado é necessário alguém ter criado o Criador, mas aí entra a questão dá fé, que inicialmente o Criador, criou todas as coisas e que nada o criou, ele veio antes de todas as coisas e nada poderia ser tão poderoso a ponto de criar o Soberando Deus, ele foi o começo, nele que se deu o "Start". Não há como se ter um visão contrária a isso, talvez similar, é necessário que alguém tenha começado, e pela fé cremos que Ele começou.

Anônimo disse...

Nenhuma religião apoia a guerra, seja de que natureza ela seja, isso são os homens que criam em busca de impor seu poder e sua crença a outros povos. Culpar Deus e a religião por guerras é semelhante a culpar o descobridor do plutonio pelas bombas nucleares feitas com ele, inicialmente o plutonio serviria apenas para gerar energia nuclear.
A religião em si é um agrupamento de pessoas que creem na mesma coisa, que então se unem para falar sobre o que creem, criando uma comunidade que visa um ajudar o outro.

Jesus veio a terra para saber como era ser um humano normal, como era caminhar, se relacionar com pessoas, como era ser provado por Deus, como era passar fome, como é passar dificuldade e nos mostrar que mesmo assim ele nunca precisou se corromper ou pecar, ele sempre foi amável e gentil com a pessoas, em nenhum momento Jesus usou seu poder em beneficio próprio, ele passou na terra por tudo que era possível, sofreu as piores dores, e até a morte venceu, pois ressucitou, mostrando assim que nada é impossível para ele e que tudo que nós podemos eventualmente passar ele já passou e conhece, entende? Era necessário ele morrer, pois essa é a prova que ele tudo passou e ele tinha/tem poder para fazer qualquer coisa. E Sua morte nos dá o direito de ser perdoado por Ele, foi um sacrifício de amor, para perdoar eu e você, gente que nem existia ainda quando ele se submeteu a morrer. Analise a passagem de Jesus pela terra, muitos foram os ensinamentos, ele sofreu calado sua morte, foi xingado, chutado, teve suas vestes rasgadas, carregou sua pesada cruz em silêncio e continuava a ter amor por todos aqueles que o maltrataram. Quer amor mais perfeito que esse? Foi a entrega total que uma pessoa podia fazer, ele servia o poder de Deus, mas lançou mão de tudo, se submeteu as piores humilhações em amor à todos que nessa terra estão. Ele queria vivenciar tudo o que era possível nessa terra, até a morte, pra poder entender o meu e o seu problema apresentado em cada oração.

O dia que você tiver um encontro real com ele, presenciar milagres na sua frente, todas suas dúvidas virarão uma certeza, que ele é Deus, que ele existe e é o Todo Poderoso, peça pra ele de coração, que você terá as respostas.


Ninguém nega a Deus, senão aquele a quem lhe convém que Deus não exista. Santo Agostinho de Hipona

Anônimo disse...

Tem muito blá,blá,blá nesses comentários. Jesus sempre foi amável e gentil? E quando expulsou os mercadores do templo? Poupe-me. Quando outro ali em cima fala que Deus quer provar Abraão está apenas dando características humanas para Ele. Responda porque ele precisa provar alguém? Ele estava entediado? Não tinha mais o que fazer? Nesse papo cristão new-age faltam argumentos. Não adianta só repetir o que o pastor da sua igreja fala toda sexta-feira. É preciso estudar melhor o assunto. Todos os comentários desse post continuam tratando Deus como aquele velho sábio que irá julgar a todos. Uma pena.

Débora disse...

Na falta de nomes, dirijo-me especialmente ao Anônimo 1 (dono do primeiro comentário):
- passada a primeira experiência com o Velho Testamento, fui lê-lo novamente em sua versão completa ainda criança (tinha uns 11 anos, acho), e depois mais uma vez um pouco mais velha. Acredito sim que deveria ler toda a Bíblia de novo agora adulta mas, sinceramente, ainda não consegui me empolgar com essa idéia. De qualquer forma, saiba que minha interpretação não se baseia apenas em uma percepção infantil do texto.
- se Deus é o "start", quem apertou o botão? Desculpe, mas você não respondeu a pergunta. Tudo bem, também não tenho resposta para ela. Mas há uma teoria que acabaram de me mostrar que pode responder a isso, embora não faça sentido para o raciocínio humano. Quando puder, leia o conto "A Última Pergunta" de Isaac Asimov (de mente e coração abertos).
- quanto a religião não causar guerras, desculpe, mas você anda muito mal informado. Talvez ainda não as cause no Brasil, mas no resto do mundo, te garanto, é bastante perniciosa. Em nosso país ainda vivemos com uma certa máscara de tolerância, mas experimente participar de uma reunião de seguidores de determinado culto e dizer abertamente que não acredita nele. Aliás, não precisa falar nada, apenas observe: não demora e vão criticar esta ou aquela religião, falar mal do padre, do pastor, do culto... Religiões são produtos de seres humanos e impregnadas das fraquezas humanas.
- se Deus é onipotente, onipresente e onisciente, por que ele precisa vir à Terra e viver como humano para conseguir nos entender? Percebe a incoerência disso?
Anyway, obrigada pela visita e pelos comentários (agora me dirigindo aos dois "Anônimos". Debate é uma porta aberta ao conhecimento. E isso ainda vai gerar um post..

Anônimo disse...

Religião e Deus quando discutidos nunca levam a lugar nenhum, nunca vi ninguém crer em Deus porque debateu com alguém, o alguém que cria em Deus verdadeiramente deixar de crer porque debateu com alguém, essa discussão é muito mais profunda e pessoal do que parece, isso envolve experiências diretas e indiretas, formação familiar, conhecimento do que está sendo falado e muito mais, não vai ser um post que tudo isso vai vir a tona e as coisas serão resolvidas e esclarecidas, dá pra falar umas 10 comentários só em cima do que foi exposto no post, mas acredito que poucos são os que estão dispostos a escutar, e muitos os que querem criticar. Acho também que para ter melhor embasamento nessa discussão a autora precisaria ler mais o livro base da fé cristã(bíblia), sem isso fica difícil qualquer argumentação, tanto à favor como contra, vejo muito superficialismo no post.
Fé cada um tem a sua, seja lá qual for, só experiências vividas poderam mudar isso, não vai ser eu, você ou Carlin fazendo posts ou escrevendo livros que vamos mudar isso. Acredito que os posts acima apresentam visões de cada pessoa, poderia eu rebater o que não concordo, mas ia ser muita ambição pensar que em um post irei mudar tudo que uma pessoa concluiu em uma vida. Cada um sente ou não no coração em buscar respostas para essas perguntas dentro de uma religião que mais se simpatiza. Como tem os ruins, tem os bons dentro das religiões, assim como em uma familia, é necessário buscar os coerentes para poder assim conversar e se aprofundar em uma igreja/religiao. Não dá pra conhecer sem se aprofundar, se depois disso você não gostar, tem toda a liberdade de sair, o que não dá é atirar para todos os lados, sem conhecer nenhum e ainda esperar que te deem respostas atráves de um post.

Débora disse...

Como disse no post, não pretendo converter ninguém, apenas instigar o pensamento. É óbvio que um post não tem a profundidade necessária para fazer alguém tomar partido, principalmente num assunto tão sério. Isso é apenas uma pontinha do iceberg. Aliás, falando em profundidade, se prestar atenção verá que muitas religiões modernas não têm. Cansei de ver pastor por aí formado por aulas à distância (leia-se "por correspondência"), nada profundas e extremamente tendenciosas. Mas esta é a ponta de outro iceberg. Sr. (ou Sra?) Anônimo, não leve o assunto para o lado pessoal, isso não é um ataque, apenas uma exposição de pontos de vista. Obrigada por mostrar o seu.

Gibran Malschitzky disse...

Religião é a exposição da irracionalidade, carência e submissão humana.

Gibran Malschitzky disse...

E a única coisa que eu acredito é no inferno! Lá que vão os evangélicos, pastores, advogados, envagélicos denovo, politicos evangélicos ou não e mais um monte junto com os evangélicos.

Maridão disse...

Lendo esses comentários todos só consigo chegar a uma conclusão: como esses pseudos-cristãos escrevem mal. Vai uma gramática revisada aí?

PS: E a Dé redescobriu o CATA-CORNO-DO-GOOGLE (Piadinha interna)