sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Surdo Funcional

Você deve conhecer o termo “analfabeto funcional” -  o sujeito que, mesmo sabendo ler e escrever, não consegue interpretar textos ou executar operações matemáticas. Infelizmente, uma parte considerável da população brasileira. Pois bem, deixando constatações políticas e humanitárias de lado, analfabeto funcional é fichinha perto do surdo funcional. 
Não falo daquelas pessoas que nasceram com alguma deficiência auditiva, mas dos que, parodiando analfabetos funcionais, têm todas as suas funções positivas e operantes e ainda assim insistem em não escutar nada do que os outros falam. 
A cena é típica: você tem a infeliz ideia de perguntar qualquer coisa para o surdo funcional e ele responde, sem dar brecha para comentários. Você até aproveita a primeira ou segunda pausa que ele faz para respirar e retruca, mas o sujeito simplesmente ignora e continua sua eterna ladainha, como se a vida dele fosse a única coisa interessante no mundo. 
Não é possível estabelecer um diálogo com essas pessoas: para elas, só o monólogo existe, embora muitas nem saibam o conceito de monólogo. Narcisismo, egoísmo, chatice de carteirinha? Difícil definir a causa da “deficiência”, mas certamente afeta algum lugar no cérebro que controla a percepção de mundo dos ditocujos. Para eles, tudo se resume a sua limitada experiência de vida - o resto é vácuo.
Se você convive com alguém assim, não jogue a toalha tão cedo - esta que vos escreve vasculhou o Google e encontrou uma solução para ao menos minimizar a síndrome: use o telefone. O conselho veio do escritor Mário Prata, que abordou o assunto em uma de suas crônicas. “Descobri que as pessoas que não ouvem, só não ouvem ao vivo. Mas se você telefonar, elas te escutam, te ouvem, enfim, falam com você. Não sei qual é a mágica do telefone para fazer trazer aquelas pessoas à nossa realidade e ao nosso mundo. Aí passei a só falar com este tipo de gente por telefone. Se a ligação for interurbana, ele ouve mais ainda.” (Mário Prata - Revista BCP - fevereiro de 2003)
Então, da próxima vez que encontrar um surdo funcional pela frente, segure a vontade de gritar, diga que tem um compromisso urgente (quando você virar as costas ele deve prestar atenção) e peça para ligar no dia seguinte. Ele ficará agoniado, mas ao menos vocês irão conversar. 
Importante: não confundir surdos funcionais com falantes por natureza. Os últimos falam por prazer, mas sabem ouvir quem os rodeia, participar de conversas e responder a questionamentos simples, como “por que você teima em contar sempre a mesma história?”. 

2 comentários:

Mario Prata disse...

que legal você achar isso.
nem me lembrava mais.
mas é uma verdade.
mario prata
mac.prata@terra.com.br

Anônimo disse...

Esse tem sido o maior bode da minha vida. A humanidade esta perdendo a habilidade de se comunicar, é tanto interesse por si proprio que nao sobra espaco pra sequer ouvir ao proximo, é muito triste falar com alguem e perceber que nao esta ouvindo, isso quanso nao sequer te deixa terminar de falar pra falar outra coisa, ou, o que tem rolado muito tambem, te contradizer, dizer que vc esta errado, nao importa o que vc esta falando. Primeiro ela diz que vc esta errado pra depois formular um raciocinio do porque. Eu tenho ficado calado e pouco converso com as pessoas. Muito triste!