terça-feira, 1 de junho de 2010

A Droga da Obediência

Disse uma certa reportagem que, após os 27, nossa memória já não é mais aquela "brastemp". Deve ser verdade, porque, além de não lembrar onde e quando vi a tal reportagem, também não consigo lembrar do nome certo do filme que vi ontem à noite - pela segunda vez. Vamos dizer que é "Código de Honra". Se não for, corrijam-me os cinéfilos de plantão. Trata-se da história de um jovem advogado da marinha norte americana, protagonizado pelo então também jovem Tom Cruise, que tenta provar a inocência de dois fuzileiros num caso de assassinato. Mas este não é o tema do filme.

Toda a história gira em torno de poder e alienação - superiores que têm suas ordens fielmente seguidas por subordinados muito bem adestrados para obedecer sem questionar. Pelo visto, este é o modelo que sempre deu certo nas forças armadas e, por algum tempo, também fora delas.

Preciso dizer que vejo com olhos desconfiados a continuidade desse sistema militar em qualquer país desenvolvido - título que espero poder dar ao Brasil num futuro próspero. Até onde obedecer sem questionar é algo assimilável por uma geração que tem toda a informação do mundo em computadores com acesso à internet em cada esquina (ou dentro da própria casa)? E, analisando sob uma ótica mais pacifista (e otimista), até onde é realmente necessário "adestrar" seres humanos ao invés de ensiná-los a pensar? Quem sabe no futuro, ao invés de guerras, tenhamos debates.

*Sobre o título do post, além de referir-se ao assunto aqui proposto, trata-se do nome de um livro do Pedro Bandeira, meu autor predileto nos tempos de pré-adolescente. Recomendo.

7 comentários:

Maridão disse...

Questão de Honra

Rogério disse...

Débora, o fato de seguirem ordens sem questionar é um fato puramente causado pelo terror que os comandantes colocam nos seus comandados. Não existe espaço para reflexão.E temos muitos exemplos na história da humanidade. Qual guerra não foi feita por uma obediência cega e com contestação mínima? Quem mata alguém em uma guerra não tem nada contra a pessoa que matou, somente obedece sem questionar uma ideologia, ou uma ordem superior. Assim milhares de alemães perseguiram seus irmãos judeus na segunda guerra, sem questionar o porque da purificação da raça ariana. Para qual finalidade isto era feito? Ninguém questionava. E seguindo este modelo prussiano quase todos os exércitos foram treinados, com códigos de honra sem justificativa, a não ser manter os comandados com medo e assim obedientes.
Uma nova geração que pense antes de obedecer? Débora, o que me entristece muito é que a geração Y que recebe tanta coisa (menos uma informação de qualidade) é a primeira a partir para modismos sem questionar a verdadeira necessidade disto. Basta ver como são guiados pela mídia (veja uma propaganda qualquer de telefonia celular, parece que já nascemos com esta necessidade louca de falar com outro por telefone). Esta geração não é forçada a obedecer sem questionar, ela é simplesmente guiada por uma mídia insistente que martela diariamente a toda hora sua necessidade de vender alguma coisa. Esta ânsia de consumo é que deveria ser questionada pelas pessoas, uma vez que isto está acabando com o planeta (vendo mais, consumo mais recursos naturais).
Quanto ao filme, vi mais pela Demi Moore (no alto da sua beleza) que pela história...

Débora disse...

Sempre posso contar com o Maridão para lembrar os nomes dos filmes. :)

Rogério, quanto ao "poder da mídia", não estou certa de que possamos atribuir todo esse poder a ela. Acho que isso é mais um problema cultural, de desestruturação das famílias e uma consequente desintegração de valores como ética, ajuda ao próximo, comprometimento com o futuro, e por aí vai. Passamos de uma realidade onde as pessoas viviam em grupos para outra, focada no indivíduo - um indivíduo bem egoísta, diga-se de passagem.

Débora disse...

Indo mais além, essa questão é como aquela pergunta sobre quem veio primeiro - o ovo ou a galinha. A mídia apenas reflete as mudanças da sociedade, ou a sociedade reflete as mudanças transmitidas pela mídia? Sinceramente, não sei a resposta.

Rogério disse...

Bem, depende de quem está pagando a conta. A falta de uma imprensa independente é o grande câncer da sociedade. Admite-se por exemplo, uma censura ao jornal Estado de São Paulo (nenhum outro jornal se indignou com isso), porque o governo é o maior anunciante dos meios de comunicação. Hoje a mídia simplesmente noticia aquilo que se paga para anunciar, sem questionar se é bom ou ruim para quem é influenciado por ela.

Atualmente temos uma família diferente da que tínhamos nos anos 70 e 80, e não achamos nessa nova configuração de família um espaço para preservar as coisas boas (sim, como respeito aos mais velhos, educação, paciência, solidariedade), estamos deixando espaço apenas para pessoas que são providas, que apenas recebem.
Temos que colocar isto em nosso sistema educacional (mas nossos pedagogos são contra conteúdos como educação moral e cívica, iniciação para o trabalho, estudos sociais), que fizeram parte da nossa educação.
Temos que esperar que algo grande atinja a sociedade para que estes valores ressurjam?
Espero que não.

++ Rodolfo Araújo ++ disse...

Débora, talvez esse texto possa lhe oferecer outra perspectiva:

http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/06/experimentos-em-psicologia-stanley-milgram-e-o-choque-de-autoridade.html

Atenciosamente, Rodolfo.

Débora disse...

Rodolfo, muito interessante esse texto - realmente dá outra perspectiva ao tema. Se seguirmos uma lógica darwiniana (ainda estou no livro do Dawkins)talvez tenhamos uma tendência natural a obedecer autoridades porque, num passado distante, agir com coerência e ordem dentro de um grupo tenha sido decisivo para nossa sobrevivência. Então, sobreviveram os indivíduos que melhor se adaptaram aos grupos e seus chefes. O individualismo dos tempos atuais não eliminou por completo essa necessidade - mas nos tornou mais críticos. A pergunta então é: serão esses indivíduos mais críticos (e egoístas) mais capazes de sobreviver e transmitir seus genes (se a teoria de Darwin - e a minha - estiverem corretas)?