segunda-feira, 27 de julho de 2009

Uma última folha

Hoje, aos 96 anos (e prestes a completar 97) foi embora deste mundo meu último avô ainda vivo. Fiquei oficialmente órfã de avós. A morte, quando chega assim para alguém que viveu tanto, já não assusta mais aos olhos de quem observa de longe. Vem como um sussurro, fria e triste nesta segunda-feira invernal.

Por alguma ironia do destino, meu avô mais velho foi o que viveu mais, e a avó mais nova nos deixou primeiro. Se a vida segue alguma lógica, certamente não é a humana. Planejamos, planejamos e planejamos, aí vem o acaso e nos dá uma rasteira. O controle escorre por nossas mãos, faz graça de nossa vulnerabilidade.

Era quieto, meu avô. Costumava ficar ouvindo as conversas, os zumzumzuns de filhos, netos e bisnetos, soltando um comentário breve hora ou outra. Sempre achei que havia puxado isso dele. Isso e um sombrio orgulho tão difícil de abandonar. É tudo que sei sobre ele - tão próximo e tão desconhecido.

Queria dizer que vou fazer tudo diferente, sabe, mas cada vez mais me convenço da imperfeição latente que atinge a todos nós e algum dia, sem razão, se manifesta. Então já não me comprometo, só me despeço, com pesar, desta última folha que caiu.

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