terça-feira, 22 de maio de 2007

Coincidências

Ontem terminei de ler A Bruxa de Portobello, do Paulo Coelho. Se você for como eu, deve estar pensando “oh, não, ela lê Paulo Coelho” e concluir que finalmente perdeu a fé na humanidade. O fato é que eu não lia Paulo Coelho. Desde os meus 15 anos. Foi mais ou menos nessa idade que comecei a questionar os livros que caiam na minha mão – principalmente no que se refere a gramática e estilo. Não que eu seja um exemplo de escritora – nem poderia me considerar uma – mas sempre fui um pouco chata com isso.

Enfim, o livro estava lá num canto da prateleira, voltado para mim como quem diz peque-me, e eu peguei. Lá pela 10ª página cheguei a pensar seriamente em desistir. Esotérico demais. Mas, como diz a frase pra lá de citada do Fernando Pessoa, “tudo vale a pena”. E como vale. Mesmo que a estória seja meio forçada, o final é muito bom (adoro finais que me surpreendem, por pior que seja o resto do livro, um bom final é o que me conquista) e, quem diria, quase na última página, topei com uma síntese perfeita de um poema que tinha (re)lido há alguns dias e do qual gosto muito. A frase dizia simplesmente “amar é”. E o poema, do Carlos Drumond de Andrade, diz:

“Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira,
no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor”

O livro inteiro valia pela frase. E não falo daquele amor-paixão, que a tudo cega e distorce. Falo do amor-amor, que sobrevive à distância, ao ciúme e à mesquinharia humana. Ás vezes é bom ler esses livrinhos de auto-ajuda disfarçados de literatura. Eles nos fazem sentir capazes de tudo. Até de amar.

(sobre o título: ultimamente várias coincidências do gênero vêm acontecendo comigo. Esses dias, logo após uma partida de Scrable, li um episódio no Restaurante no Fim do Universo em que algumas personagens tentavam iniciar justamente este jogo. Coinciência? Talvez. Talvez eu tenha começado a prestar mais atenção no mundo, e o mundo começado a se mostrar melhor para mim. Mistérios... :))

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