domingo, 22 de abril de 2007

30 anos

De repente me dou conta do que significa ser uma mulher de 30 anos (atualmente, vivo os últimos meses dos vinte, e sair desse período de “juventude” para entrar na maturidade oficial tem sido assunto recorrente nos meus momentos de reflexão). É como se, subitamente, nos déssemos conta de que tudo vai acabar um dia, e é necessário consertar as coisas enquanto ainda não precisamos de fraldas e uma cadeira de rodas para viver decentemente.

E isso, essa urgência em resolver tudo, nos torna fortes e determinadas como nunca. Mulheres, enfim.

Passei anos me lamentando de problemas que não conseguia resolver – porque atribuía ao mundo a responsabilidade por eles. E somente há alguns meses me dei conta de que esse turbilhão de problemas que costumava me tirar o sono e a alegria nas horas mais impróprias foi, em sua maioria, causado e perpetuado por mim.

Difícil encarar uma verdade dessas. Talvez isso só tenha sido possível pelo sentimento de finitude que os 30 anos representam para uma mulher. A ameaça da velhice, de se ver feia e sozinha, sem ter realizado sequer metade do que sonhamos, mexe com a gente de uma forma indescritível.

É quase injusto ter essa percepção somente depois de tanto tempo. Pois é só agora que nos encontramos em condições de viver a vida plenamente – e lá adiante, mais perto do que nunca, já está fincada a sentença do fim.

Mas deixemos o fatalismo para os setenta, e façamos de conta que essa década que nos espera levará 50 anos para terminar. Enquanto isso, um trecho sobre as “balzaquianas”:

"Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis para um rapaz... Com efeito, uma jovem tem ilusões, muita inexperiência, e o sexo é bastante cúmplice do amor... ao passo que uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios que tem a fazer. Lá onde uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas à do amor, a outra obedece a um sentimento consciente. Uma cede, a outra escolhe... dando-se, a mulher experiente parece dar mais do que ela mesma, ao passo que a jovem, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode compara nem apreciar... Uma nos instrui, nos aconselha... a outra quer tudo aprender... Para uma jovem seja amante, precisa ser muito corrompida, e então é abandonada com horror, enquanto uma mulher possui mil modos de conservar a um tempo seu poder e sua dignidade... A jovem... acredita ter dito tudo despindo o vestido; mas uma mulher... se esconde sob mil véus... afaga todas as vaidades... Chegando a essa idade, a mulher sabe consolar em mil ocasiões em que a jovem só sabe gemer. Enfim, além de todas as vantagens de sua posição, a mulher de trinta anos pode se fazer jovem, desempenhar todos os papéis, ser pudica e até embelezar-se com a desgraça.” (A Mulher de 30 Anos – Honoré de Balzac)

Um comentário:

Anônimo disse...

Passar dos 35...
É mais ou menos o que você fala de passar dos 30 para as mulheres (vai ver é por isso que dizem que meninos tem que ir para a escola mais cedo, eles demoram para amadurecer). Você vai percebendo algumas mudanças sutis, mas a principal dela é a repetição de situações da tua vida (meu, se tivesse pensado 5 minutos mais antes daquela decisão, faria tudo diferente...), bem, ao menos agora você fica mais racional e age diferente... Sem falar que você começa a lutar contra o tempo:
é cuidar da pele, do cabelo, academia, caminhada. Além disso, você começam a se olhar e ver o que você deixará de "legado" - o que este irá deixar para o mundo? Bem, alguns pensam que só viver é suficiente (e neste mundo complicado, viver já não é tão simples). Quem sabe quando eu tiver 46 ache isto uma grande neura e não ligue mais prá isso. Sabe, o que acontece é que crescemos, e não conseguimos perceber a beleza de cada idade, de cada estação da nossa vida. Você sempre é belo aos 30, aos 40, aos 50, embora não perceba. Pois como diz Victor Hugor em Desejo: "Desejo que você, sendo jovem,não amadureça depressa demais,e que, sendo maduro, não insista em rejuvenescer,e que, sendo velho, não se dedique ao desespero.Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
é preciso deixar que eles escorram por entre nós."
Abraço.