domingo, 24 de junho de 2007


Amnésia

Aconteceu de novo. Foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça ao acordar na ambulância. Agora, preciso escrever. Preciso escrever enquanto ainda tenho lucidez suficiente. Deram-me um remédio que me deixa zonza. Zonza e com sono. Será esse o início da minha loucura? Tenho medo de não ser mais dona de mim. Vou contar o que aconteceu:

Acordei em uma maca, dentro de uma ambulância. Um paramédico me perguntava o que houve e eu, com as lembranças que me restavam, contava que estava dirigindo. Estava dirigindo e agora estou aqui, nessa maca. O que aconteceu? Você sofreu um acidente, disse ele. Começo a mexer dedos do pé e das mãos. Não perdi nenhum sentido importante, pensei. Minha coluna deve estar intacta. Machuquei alguém? Você bateu em uma árvore, ele deve ter dito, não lembro. Algum anjo deve ter olhado por mim, pois nem a árvore eu derrubei. Sorte de principiante? Ah, Deus, não sei, mas obrigada assim mesmo.

No hospital, alguns raios-x depois, a médica queria que eu passasse a noite lá. De jeito nenhum, pensei. Vou para casa. E fui mesmo, com uma receita de um remédio esquisito nas mãos. De 8 em 8 horas tenho que tomar esse negócio. Acordei sábado vendo o mundo girar. Fecho os olhos e abro novamente, numa segunda tentativa. De nada adianta, a estante e os livros continuam balançando. O jeito é me acostumar. Quanto tempo leva para meu corpo não ser mais afetado? Perguntas, perguntas, tenho tantas. Por que justo eu? Só queria uma vida normal, família, filhos, férias na praia.... será pedir muito? Segunda-feira tenho uma consulta com um neurologista e, imagino, saem os resultados dos exames feitos na quinta. Não há de ser nada. Melhor: era só para eu ter história para contar aos netos.

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